O que terá acontecido a Baby Jane?

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Não tenho lá o costume de assistir filmes antigos em preto-e-branco e não é nem pelos fatores comuns (efeitos especiais ultrapassados, falta das cores, áudio abafado), é mais porque os filmes produzidos nesta época costumavam ser sobre histórias mornas, sem grandes reviravoltas ou fatos chocantes. Mas claro, sempre há algumas exceções. E “O que terá acontecido a Baby Jane?” é uma delas.


Desenvolvi maior interesse pelo filme após ter assistido a série Feud – Bette and Joan, cuja review você pode ler aqui. A série fala sobre a produção e o por trás das câmeras deste filme, o que me fez simpatizar ainda mais com a produção. Agora, preciso lembrar a vocês que é um filme de 1962, produzido em preto-e-branco, com um elenco e orçamento igualmente limitado, numa tentativa de trazer a tona novamente as atrizes Joan Crawford e Bette Davis.
A história começa com um show de variedades, muito famoso nos anos 20, em que uma garotinha dança, canta e sapateia para a platéia. Essa menina é Baby Jane Hudson, a caçula da família Hudson. No palco ela é só sorrisos e gentilezas, mas, no momento em que sai do prédio, se mostra uma criança grosseira, mimada e mandona. O total oposto da irmã mais velha, Blanche que é tímida e educada.
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Com o passar dos anos, as duas tentam a sorte na carreira do cinema e aqui acontece uma reviravolta, enquanto Blanche está tendo uma subida meteórica no sucesso, Jane cai cada vez mais no esquecimento. Até que um dia, quando estão voltando para casa acontece um acidente de carro que aleija Blanche para sempre e podemos deduzir pela sequência de cenas que a culpa foi de Jane.
E é aqui que o filme realmente começa. Agora a mais velha está totalmente a mercê das vontades caprichosas e mimadas da irmã, que não mede esforços para fazer a vida de Blanche miserável, afinal, seu plano era tirar a outra do caminho e subir dentro da indústria do cinema em seu lugar, mas ao invés disso, ela precisou cuidar da irmã para sempre, frustrando qualquer plano de tentar voltar ao estrelato.
O que vem a seguir é uma série de pequenas crueldades dignas de uma menina mimada em corpo de mulher já com certa idade e as tentativas desesperadas da irmã cadeirante em pedir socorro e fugir do cárcere privado no qual foi colocada.
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Vamos vendo como os ciúmes, a inveja e a frustração de ter sido esquecida, já que Jane foi famosa apenas quando criança, enquanto a irmã é lembrada até os dias atuais, cada vez que um de seus filmes é exibido na tevê, se desenvolvem, não apena através das cenas em que há algum tipo de agressão verbal ou física contra Blanche, mas também nos detalhes que vão sendo revelados aos poucos. O ódio de Jane pela irmã é quase palpável.
É um filme, que até mesmo para os dias de hoje continua sombriamente atual e tem todos os elementos de um bom suspense que nos faz assistir de olhos vidrados às duas horas de longa-metragem.
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A interpretação de Joan Crawford como Blanche foi impecável, ela realmente encarnou uma mulher que ficou paraplégica por conta de um atropelamento e nos faz acreditar piamente nas cenas em que a personagem arrisca se locomover sem a cadeira ou ainda.
Ao mesmo tempo, Bette Davis fez uma vilã memorável dando vida a Jane Hudson, uma mulher atormentada pelo amargor e frustração da perda do sucesso instantâneo e com um terrível vicio no álcool e sentimentos sádicos e cruéis para com a irmã.
Jane é sem dúvida uma das vilãs mais cruéis, frias e calculistas que o cinema americano já produziu. Ela é maquiavélica e está totalmente apta a apagar do seu caminho todos que tentarem interferir na execução de seus planos devaneadores de voltar a ser uma artista querida pelo grande público.
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Aos poucos podemos ver como a loucura tomou conta da personagem, que se torna cada vez mais obsessiva com o sonho de voltar ao estrelato e que vê na irmã, sua maior inimiga e obstáculo para poder realizar seus planos. E seus atos para que tudo saia como o planejando evoluem cada vez mais violentos e desesperados, somados ao fator da negação de suas ações destrutivas, demonstrando traços gritantes de uma personalidade psicopata insensível e materialista.
No entanto o desfecho é um detalhe a parte que nos faz repensar o filme todo, ao mesmo tempo em que apresenta o momento em que a mente racional de Jane finalmente quebra para sempre.
Enfim, o filme é uma fábula moderna de como uma informação ocultada durante anos é capaz de tornar uma pessoa que até então era apenas mimada e caprichosa, em alguém com grande inclinação para um comportamento psicopata e vingativo e por que não, violento e impensado.
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Curiosidades:
·         Para a época em que foi produzido, o filme foi considerado bastante violento e explicito.
·         Na cena em que Jane arrasta Blanche escada acima, Joan estava usando um par de pesos de ginástica sob as roupas, para atrapalhar a interpretação de Bette.
·         Joan e Bette eram rivais ferrenhas e produzir esse filme foi um verdadeiro desafio.
·         A moça que faz a jovem vizinha da Hudson é BD Davis, filha de Bette. Ela não era atriz e por isso sua interpretação é tão ruim.  
·         A cena clássica do rato na bandeja chocou todos que estavam na platéia, em cada uma das sessões do filme e foi repetida em vários tipos de programas e filmes, por ter se tornado icônica.
·         Quase não existem personagens masculinos no filme e se aparecem, são temporários ou de menor importância, o foco é todo nas irmãs Hudson e em algumas personagens femininas menores, como a vizinha e a empregada.
Você pode assistir ao filme completo e legendado aqui
“Então quer dizer… que podíamos ter sido amigas esse todo tempo?”

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