IT capítulo 02 [2019]




Eu assisti ao filme quando ainda estava no cinema (e fiz anotações no escuro enquanto assistia ao longa), mas por conta de uma série de contratempos pessoais, só consegui sentar pra escrever a review agora.

Uma coisa que o pessoal tem de ter em mente quando vai assistir IT parte 2 é que, o ritmo da narrativa será diferente, em parte pelo fato dos personagens já serem adultos e em parte porque o filme é o final da narrativa iniciada há 2 anos [e normalmente, os finais nem sempre são do agrado de todo o público].

Dito isso, vamos a review.


O filme começa um pouco antes do ponto onde o primeiro filme parou, mais especificamente da cena em que a Beverly entra em transe por olhar dentro das luzes mortais do Pennywise. E então a cena corta para os garotos fazendo o juramento de retornarem a Derry caso a Coisa reapareça.

E em seguida temos uma filmagem panorâmica de toda a cidade de Derry. Se passaram 27 anos.  Somos apresentados então a um jovem casal gay que está se divertindo no parque de diversões da cidade, até que começam a ser perseguidos por um grupo de homofóbicos violentos.

A cena do ataque contra os dois rapazes é muito violenta e explícita, e eu até vi algumas matérias na época do filme perguntando se ela era realmente necessária – e sim, ela era, pois também acontece no livro, logo no começo do primeiro capitulo, pois, quem leu sabe que a narrativa de “A Coisa” não é linear.

Também ouvi alguns boatos de que esta cena do ataque foi inspirada por um caso real de homofobia, mas não consegui encontrar mais informações para confirmar, no entanto, esse tipo de crime de ódio acontece em grandes quantidades por todo o mundo, então é bem capaz que o King viu alguma noticia e usou como base para a cena.

O interessante é que na sequência vemos um amontoado de balões vermelhos sob a ponte da cidade, o que me fez pensar em uma enorme sangria de borracha super ampliada e é a primeira aparição de Pennywise no longa-metragem.

Vemos então que fim levou os perdedores, Bill trabalha como roteirista para a Warner Bros. (o estúdio que produziu os filmes de IT), as pessoas adoram os seus livros, mas odeiam os seus finais. Eddie acabou se casando com uma mulher física e emocionalmente igual a sua mãe.

As reações de cada um deles em resposta a ligação de Mike são bastante únicas, enquanto Eddie bate o carro e Bill volta a gaguejar, Richie, que esta fazendo stand up comedy, tem um acesso de vomito nervoso.  Tudo é bastante visceral.

No trecho em que Ben aparece, fisicamente mudado, podemos ter um vislumbre do ator que interpretou o personagem na versão de 1990, ele está na videoconferência como um dos funcionários da empresa de Ben.

A classificação “16 anos” foi confirmada pela quantidade enorme de violência física e abuso não relacionado a criatura. Os personagens em si, especialmente a Beverly, sofrem ataques violentos de seres humanos não relacionados de forma alguma com Pennywise. Sem falar na cena de suicídio do Stan, que apesar de não ter sido explícita é bastante impactante.

O filme não é totalmente linear (assim como o livro), pois apresenta a cena da prisão de Henry, mas, a cena do Pennywise que aparece na lua [na versão de 1990] foi substituída por um balão vermelho solitário flutuando do lado de fora do hospital psiquiátrico no qual Bowers está preso. 

E ao invés do palhaço aparecer para retirá-lo da prisão, vemos uma versão decrépita do amigo delinqüente de Henry, Patrick Hoffstater, que lhe entrega de volta seu canivete e o ajuda a escapar do hospital.

O alívio cômico continua por conta do personagem de Richie e o ator continua o trabalho feito por seu antecessor mirim de uma forma bastante satisfatória.

Infelizmente, na cena do restaurante chinês, ouve um uso excessivo de CGI e animação digital, o que, em minha opinião, tirou um pouco do charme do filme, já que na versão dos anos 90 foi usada muita maquiagem e efeitos práticos. (não estou tentando comparar e dizer que esta versão nova não tem seus pontos positivos, só que, eles abusaram um pouco do uso da computação gráfica.

A representação do Pennywise no filme é um misto de bicho-papão e criatura carismática e apesar de eu saber que não foi intencional, não consegui deixar de pensar que o comportamento do palhaço na cena do jogo de baseball se assemelhou demais a de um pedófilo, atraindo uma vítima com promessas de doces e brincadeiras.

Pennywise canta! Em uma pequena cena em que ele encontra com Richie no meio de Derry em plena luz do dia, a criatura começa a cantar uma musica provocativa.
O ponto alto do filme para mim foi o cameo do King, eu quase dei um grito dentro do cinema, mas tive de me segurar. A sequência em que ele aparece é hilária e bastante peculiar. King aparece como o dono de um antiquário na vitrine do qual está exposta a Silver, antiga bicicleta de Bill.

As pessoas que por algum motivo não puderam assistir o capítulo 01 não ficaram perdidas, já que o capítulo 02 é repleto de flashbacks do primeiro filme, além de cenas novas que são memórias dos personagens.

O filme em si é uma grande metáfora sobre a perda, o luto e o abuso e a gente pode notar isso em cenas específicas e em como a Coisa coloca os perdedores para enfrentar seus maiores medos e traumas.
A cena do garotinho do skate e da casa de espelhos foi escrita especialmente pelo King para a adaptação e falando em casa de espelhos, vale citar que toda a dinâmica desta cena no parque foi uma homenagem a “Palhaços assassinos do espaço sideral”, um filme trash dos anos 80.

Em outro momento, quando a cabeça de um Stan fantasma vira uma espécie de aranha, eu senti uma referência muito grande a “The Thing” (O enigma de outro mundo) do John Carpenter e na cena em que enquanto segura o atiçador, um dos meninos diz “Nas mãos certas, qualquer objeto é mágico”, me lembrei de “O vento pela fechadura” da saga “A Torre Negra”, pois o coletor de impostos do livro diz isso para o garoto da história do Pistoleiro aconteceu também uma breve mensão a “O iluminado” com a clássica cena de “here’s Johnny” e por fim a cena do porão inundado na casa de Bill me fez pensar no desfecho do conto “A casa sem fim” em que o personagem tem de enfrentar uma versão de si mesmo para escapar.

A informação sugerida no primeiro filme de que o pai da Bev abusava dela quando jovem é confirmada e se pararmos para analisar, ela acabou caindo em um relacionamento abusivo pois esse foi o único tipo de contato que ela teve quando criança.

Sobre “a verdadeira forma da Coisa”, preciso dizer que não gostei muito, nesse quesito a versão de 1990 foi mais feliz, representando a criatura como um ser estranho e alienígena. Nesta versão, acredito, o diretor quis manter a visibilidade no ator que faz o Pennywise o máximo de tempo possível e bom, fez aquilo que não ficou esteticamente muito assustador.

Também senti falta de outra cena (mas aqui vale frisar que eu ainda não li o livro e por isso não sei se esta cena foi criada para a minissérie), que foi a da Audra olhando nas luzes da morte e no fim, recobrando a consciência enquanto o Bill descia a ladeira com ela sentada em cima da bicicleta.

É explicada a origem da coisa e o ritual de CHUD (que por razões óbvias foi modificado), infelizmente a tartaruga não é mencionada.

Enfim, o segundo filme tem um ritmo bem diferente do primeiro, o que não quer dizer que seja ruim, mas é um compasso mais lento de narração, o que pode desagradar algumas pessoas acostumadas com o cinema “fast food”.

A forma como eles derrotam a Coisa pode parece ridícula para algumas pessoas, mas é uma enorme metáfora sobre como se deve enfrentar um valentão. A cena final com as cartas do Stan é meio piegas, confesso, mas serviu pra dar um final meio agridoce e positivo ao filme.

Em minha opinião, ambas as versões [1990 e 2017/2019] são igualmente boas, cada uma sendo produzida para uma geração de fãs do King, mas, se você pretende assistir e receber um monte de sustos, eu sinto te desapontar. IT Capítulo 02 é um filme sobre amizade, superar medos, enfrentar o luto, seguir em frente e claro, derrotar uma criatura alienígena devoradora de crianças e mundos.
Como fã do King, eu posso dizer que curti a experiência.




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