Revenge
Vou falar a verdade aqui, sou grande fã do cinema francês, especialmente do movimento “new french extremity”, já consumi alguns filmes deste movimento, como Livide e À l'intérieur e apesar de não me considerar expert no assunto, já que ainda não assisti os filmes que se tornaram marca registrada do movimento, gosto de dizer que consumir esse conteúdo abriu meus olhos como fã de cinema para um horizonte totalmente novo e incrível, fora da caixinha hollywoodiana.
E é aqui que Revenge entra; o mais novo filme do movimento, dirigido por Coralie Fargeat, é uma homenagem aberta a um dos primeiros filmes de rape e revenge (estupro e vingança) americano, “I spit on your grave” (A vingança de Jennifer) que deu origem a franquia Doce Vingança. Mas esqueça a franquia, foque-se no original dos anos 60.
O filme conta a história de Jennifer, uma jovem bonita que vai com o amante, Richard, para uma casa isolada, tudo parecia bem, até que alguns “amigos” do cara aparecem e um deles a estupra. Como se a coisa já não estivesse horrível o suficiente, Richard fica do lado dos amigos e para terminar, empurra a garota de um penhasco, fazendo com que ela seja trespassada por galhos secos. (isso não é spoiler, pois está no trailer do filme). Agora, se você pensa que o filme termina aqui, se enganou, pois este é apenas o elemento inicial, já que é a partir daqui que Jennifer resolve colocar sua vingança (revenge) em prática.
É possível ver a ameaça iminente no comportamento de um dos “amigos” do cara, e também é fácil notar como eles se comportam iguais a lobos cercando um rebanho de animais indefesos. Aproximando-se com cuidado até em fim dar o bote fatídico. E tal comportamento me despertou uma repulsa genuína, somado ao comportamento extremamente ingênuo de Jennifer na primeira parte do filme, ela parece não ver perigo em estar sozinha com dois completos estranhos enquanto Richard sai para resolver coisas que demorarão o dia.
A cena do estupro em si não é explícita, o que, no entanto não a torna menos perturbadora. Podemos ouvir os gritos desesperados de Jennifer e ver o outro “amigo” ligar a teve no último volume para abafar o som e sair para nadar na piscina. Ele sabe o que está acontecendo no quarto, mas prefere ignorar e quando Richard em fim retorna, ele diz a moça que “vai resolver tudo” e por alguns instantes ficamos aliviados, ele vai defendê-la… Só que não.
Richard tenta comprar o silencio dela, já que o cara é casado e ela é sua amante, com uma quantia alta em dinheiro e a promessa de um emprego no Canadá, quando naquele momento tudo o que ela queria era apoio e ir para casa. A justificativa que o cara dá é ainda mais asquerosa, “você é bonita demais e ele não conseguiu resistir”.
E por fim as coisas mudam para um caminho perigoso quando Jennifer ameaça ligar para a esposa do cara e então ele decide que o melhor é se livrar dela, como as pessoas se livram de um saco de lixo.
Ela sai correndo pelo deserto que circula a casa, ele vai atrás, seguido pelos dois “amigos”, até que chega na beira do penhasco, não há saída. E então vem o discurso padrão do homem abusivo “eu estava estressado, sinto muito e blábláblá”. Em seguida ele a engana, dizendo que ligou para o helicóptero que os trouxe até lá, e quando a moça baixa a guarda, o cara a empurra do penhasco, fazendo com que ela seja trespassada por galhos de uma árvore seca. Daqui em diante o filme se torna um desfile de sangue e gore, com direito a todo tipo de imagem graficamente chocante, então, você foi alertado.
Pode-se dizer que o filme divide a personagem Jennifer em dois perfis. O apresentado no começo do filme a mostra como um objeto sexualizado, ressaltando a falta de limites dos personagens masculinos em discernir o que é sedução e o que é abuso e caindo naquele clássico comportamento repulsivo de “ela estava pedindo”, o que frisa o fator de que uma mulher não pode se comportar de forma sexy sem que deduzam erroneamente que ela esta querendo sexo.
O segundo perfil é após a queda dela do penhasco, ali a moça está coberta por um único sentimento, vingança, instigada pela violência que os dois “amigos” do seu parceiro lhe fizeram, somada ao fato de que o homem que na teoria deveria protegê-la, a empurrou literalmente para a morte.
Conforme o filme vai se desenvolvendo vamos descobrindo o quão psicopata Richard pode ser, primeiro, preferindo matar a amante a entregar o amigo estuprador para a polícia, em seguida, planejando se livrar do cadáver e quando ela desaparece, programando uma caçada humana à moça. Os três personagens masculinos são culpados em graus diferentes, mas, Richard é o mais perigoso deles.
Ao contrario da franquia “Doce vingança” que abusa dos absurdos para executar as mortes das vinganças, Revenge é bem mais limpo e direto, nada de armadilhas complexas, mas apenas o que ela tem em mãos, e isso em minha opinião, faz do filme mais crível, já que é mais plausível que uma vítima em posse de armas e facas, matar seus agressores do que criar algum tipo de máquina de tortura complexa.
Logo quando o filme foi lançado, vi muita gente reclamando de “erros de roteiro”, e fico aqui me perguntando quais foram esses erros, seria porque a personagem que aparentava ser uma patricinha boba, tinha noções básicas de sobrevivência? Ou porque ela descobriu como carregar uma arma com cartuchos em poucos segundos? sinceramente, o pessoal parece gostar de reclamar e diminuir uma personagem feminina que, num momento de desespero e raiva, se torna capaz de coisas que não se encaixam no seu padrão de comportamento.
Talvez o único “erro” de roteiro é o fato de a personagem estar descalça durante todo o filme, mas levando em consideração que em dado momento do longa-metragem ela toma uma dose de peyote, droga que entorpece os nervos sensoriais, a dor que deveria sentir por estar andando descalça é descartada.
Enfim, o filme é bem desenvolvido, apesar de não ser nenhuma novidade no gênero Rape-and-revenge, mas faz uma abordagem um pouco mais realista, próxima do longa-metragem americano dos anos 60 no qual foi inspirado e nos faz torcer para que Jennifer dê cabo de todos os três. Além do fato de por ter sido dirigido por uma mulher, tem uma abordagem diferente, mais humana e a favor da protagonista.
Curiosidades:
- O filme é falado parte em inglês e parte em francês
- A diretora Coralie Fargeat é grande fã de “A vingança de Jennifer” e foi desse filme que ela tirou a ideia para Revenge.
Baixe o filme [via torrent] AQUI
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