Livide - das blut der ballerinas
De uns tempos para cá eu tenho me interessado cada vez mais pelo cinema de horror francês ou o new french extremity como é chamado o movimento, posso dizer com orgulho que já assisti duas produções do movimento, o que torna “Livide - das blut der ballerinas ” (lívido - o sangue das bailarinas, em português) o terceiro filme assistido.
Se você acompanha minhas reviews há algum tempo, já deve ter notado que eu tenho um gosto bastante peculiar e diferenciado, quase não consumo conteúdo hollywoodiano, não que eu o ache inferior ou coisa parecida é só que, uma vez que você experimenta o sabor do cinema europeu e asiático, os filmes enlatados norte-americanos jamais causarão o mesmo impacto.
Muito bem, como sempre, as sinopses feitas nos sites de torrent e streaming da vida, pecam e muito, transformando peças de arte do terror em simples enredos chatos, confesso que, se não tivesse visto algumas imagens deste filme, eu não teria olhado duas vezes para ele nas indicações de download.
Logo na abertura somos apresentados a uma praia deserta e então, o close numa cabeça humana decepada e atualmente habitada por lacraias e caranguejos. É uma cabeça de uma mulher jovem. A câmera então passeia por outros objetos abandonados, um pequeno caminhão batido e coberto de musgo na beira da praia e então um cemitério. Toda essa filmagem panorâmica é acompanhada de uma tenebrosa musica instrumental, o que já nos faz entrar no clima do filme.
É 31 de outubro, Halloween. E enfim conhecemos a protagonista, Lucy, uma jovem estudante de enfermagem que tem heterocromia, que é uma condição em que a pessoa nasce com um olho de cada cor, no caso de Lucy, ela tem um olho verde e outro castanho. Ao notar isso, sua supervisora no curso de enfermagem lhe conta sobre a lenda de que pessoas com olhos de duas cores tem conexão direta com o mundo dos espíritos.
Ela e sua supervisora vão aplicar cuidados médicos na casa de alguns pacientes. As visitas seguem bem, até que ao chegar em uma casa afastada da cidade, supervisora diz a Lucy que ela não tem preparo para tratar da paciente daquela casa e a deixa sozinha no carro.
Desobedecendo as ordens da outra mulher, Lucy adentra na propriedade, até chegar na grande mansão, cuja porta não está trancada, facilitando a entrada da moça. O interior da casa está sujo com folhas secas e poeira, dando a entender que ninguém faz a limpeza e manutenção do local há anos. Também existem móveis cobertos com lençóis, no melhor estilo casa abandonada.

Até encontrar a tal paciente, Deborah, uma famosa professora de ballet que agora se encontra em coma vegetativo irrecuperável. Viúva e com a única filha falecida há anos, a mulher espera a chegada da morte na grande e abandonada mansão tendo apenas os cuidados médicos exercidos pela supervisora de Lucy. A supervisora segreda que a mulher é extremamente rica e que segundo lendas, há coisas de valor escondidas por toda a casa.
Então somos apresentados a um pouco do cotidiano de Lucy e ao seu namorado, William. Essa tentativa de normalidade é um recurso bastante comum nos filmes de terror, a ideia é aproximar os personagens da realidade do espectador para que nós nos afeiçoemos por eles e criemos uma espécie de laço emocional, para tornar chocante tudo de ruim que poderá acontecer mais para frente no filme.
Durante a conversa dos dois, Lucy conta sobre a fortuna oculta da velha em coma e William, que trabalha como pescador num barco com o pai; vê ali a grande chance de ter uma vida melhor. Ele sugere que invadam e roubem a tal mansão,mas de principio a moça é contra, no entanto, quando ao chegar em casa e descobrir que o pai quer trazer uma mulher para morar com eles, ela muda de ideia.
Ao mesmo tempo em que Lucy é assombrada pela memória do fantasma da mãe, que cometeu suicídio e pelo descaso do pai com a morte da esposa. Em certo momento ele diz “Sua mãe decidiu partir” como se o ato desesperado de tirar a própria vida fosse o mesmo que se a mulher tivesse pego o trem para fora da cidade. Essa insensibilidade da família da moça é um detalhe importante para causar mal estar no espectador, pois vemos o peso invisível que Lucy está carregando sozinha e a carga emocional com que ela tem de lidar, sem ajuda ou apoio de ninguém.

E a partir daqui as coisas vão ficando bastante macabras, começando pela supervisora de Lucy, que aparece fazendo uma tarefa bastante horrenda na banheira da sua própria em sua casa e cujo significado se conecta diretamente com a velha em estado vegetativo na grande mansão abandonada.
E conforme Lucy, William e um amigo, chamado Ben invadem a mansão, as coisas se tornam cada vez mais estranhas e assustadora e a parte sobrenatural do filme começa a se manifestar.
Assim como outros filmes do movimento, Livide vai nos apresentando as informações bastante lentamente, nos dando pequenos sustos sem jump scare ou qualquer outro artifício barato. Aqui o horror é mais refinado e subjetivo, o que não quer dizer que não haverá cenas gore ou de conteúdo grotesco, mas sim que até a cena mais chocante será desenvolvida de forma artística e primorosa.
E ao contrário dos outros filmes do movimento, que se apoiam apenas na maldade humana, este aqui tem uma inclinação ao sobrenatural, para complementar o tópico recorrente. Livide tem cenas que vão do grotesco ao sublime, do doentio ao maravilhoso além de oferecer uma série de camadas de enredo diferentes desenvolvidas em 1h30 de duração.

Como temas de fundo no filme nós temos o luto, o desprezo e a culpa pelo suicídio, o abandono de idosos pelas famílias, a ganância e o desespero de “uma vida melhor” a qualquer custo. São detalhes que pontuam o ritmo do longa-metragem e nos fazem experimentar algo além do terror blockbuster.
Agora alguns alertas, caso você tenha sentido interesse de ver este filme. A narrativa é lenta e arrastada e a menos que você tenha paciência, você não gostará deste longa-metragem, afinal, parte da tensão do filme está nas longas cenas repletas de silencio e suspiros, nos momentos de espreita e surpresa dos personagens.
Vale citar que enquanto eu assistia ao filme que é de 2011, notei diversos detalhes que foram descaradamente copiados por dois longas-metragens americanos, são eles “o homem nas sombras” (2012), em que um grupo de jovens invadem a casa de um homem cego – que a vizinhança diz ser extremamente rico – e acabam descobrindo algo extremamente perturbador e “O ultimo capitulo” (2016), produção “original” Netflix em que uma jovem enfermeira é encarregada de tomar conta de uma senhora em estado semi-catatônico e que começa a experimentar situações que beiram a loucura. Não é de hoje que o cinema americano rouba abertamente detalhes e às vezes até enredos inteiros de filmes europeus e asiáticos, isso sem falar nos clássicos remakes em que regravam o conteúdo original com atores americanos e costumam estragar bastante o roteiro original.

Ah, também vale informar que, diferente dos filmes norte-americanos, este aqui não tem nenhuma cena de estupro e nem de sexo entre os personagens, o que, é sempre uma feliz surpresa, já que esse tipo de cena costuma estragar a fluidez do filme, na minha opinião.
Enfim, recomendo muito “Livide” para quem gosta de vários enredos num mesmo filme, cenas de gore, invasão de domicilio, assassinatos, bruxaria e outras coisinhas que prefiro não dizer, pois você vai ter de descobrir assistindo ao filme, que é, preciso dizer, uma pequena jóia do terror moderno.
“Nem pense na noite”
Baixe [via torrent] AQUI

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