Ju-on – origins (2020)


Minissérie da Netflix composta por 06 episódios, esta prequela da franquia japonesa “Ju-on” (aqui conhecida como “O grito”) é um desfile sem fim de angustia, incomodo e situações muito perturbadoras, mas não pelo elemento sobrenatural. Não, aqui tudo é 100% maldade humana. 

AVISO, ESTA REVIEW CONTEM SPOILERS

A história começa em 1989 e apresenta duas linhas narrativas paralelas. Uma atriz em começo de carreira que diz ouvir sons no corredor da casa durante a noite e uma jovem estudante que é enganada por colegas para ir até uma suposta casa mal assombrada e lá é abusada sexualmente por um rapaz enquanto as meninas tiram fotos da situação e em paralelo ainda temos uma garotinha que foi seqüestrada e na única cena que ela aparece, a menina é brutalmente espancada pelo seu sequestrador. 

E na tal casa onde a menina foi abusada, ela viu o fantasma de uma moça e tudo dá a entender que foi esse fantasma que a incentivou a colocar em prática um sádico e calculista plano de vingança. 
As duas garotas responsáveis por arquitetar o abuso da outra estudante desaparecem, mas não sem que antes a menina abusada consiga recuperar as fotos tiradas por elas com uma câmera Polaroid no dia. 

A menina que foi abusada, por sua vez, vive com a mãe que é divorciada. A mulher não é uma boa mãe, além de ir para a cama com o professor da garota, ela ainda acusa a filha de ter “seduzido” seu marido (pai da menina) e isso fez com que ele fosse embora. A garota odeia a mãe, o suficiente para chantagear o rapaz que a estuprou, a matar a mulher em troca de ela não enviar as fotos do dia em que foi abusada para a polícia. 

Os dois continuam juntos. Ela está grávida, fruto do abuso, mas por causa dos segredos cruzados que eles guardam (o assassinato e o estupro), eles acabam se casando e ela dá a luz a um garotinho. 

Enquanto isso, na narrativa da atriz, o namorado dela entra na mesma casa que os adolescentes, em outro momento, pois está procurando um imóvel para alugar quando se casar com a moça. Ele que é sensitivo, vê o espírito da mulher e alguns dias depois morre exibindo uma perturbadora expressão facial. A atriz acredita que a culpa é indiretamente sua, já que ela pediu que ele procurasse um imóvel para eles. 

Agora é 1993, o garotinho que nasceu foi espancado, ao que tudo indica, pelo pai e está em coma com traumatismo craniano. Enquanto isso, uma mulher grávida que tem traído o marido, finalmente conta que o bebê não é dele, mas sim do homem que ela vem encontrando secretamente há meses. Acontece uma luta, ela tenta envenená-lo e esfaqueá-lo, mas no fim ele a mata, abre sua barriga e retira o bebê – que ainda está vivo. 

Ele vai até a casa do amante da esposa, tentar abandonar o recém-nascido, mas lá descobre que a mulher do cara foi morta e que o tal desapareceu. Ele então enterra o bebê no quintal (não fica especificado se a criança ainda estava viva) e enquanto faz isso, uma mulher aparece – a mesma que surgiu para a menina há cinco anos, já que a casa onde aconteceu esse novo assassinato é a mesma onde ocorreu o estupro. 

Em paralelo a isso temos um escritor que vem coletando informações sobre histórias de terror e acaba descobrindo que vários casos horrendos estão conectados com aquela casa. 
E claro, ainda temos a assistente social que tenta salvar o garotinho dos constantes abusos físicos que ele sofre em casa e que mais tarde se torna parte da busca para descobrir o mistério que envolve a tal casa. 

Em certo momento nos episódios finais, a garota que foi abusada dá a entender que o filho que ela teve, na verdade, era o espírito da criança que a mulher fantasma teve há quase 40 anos, uma espécie de reencarnação ou coisa parecida. 

E a cereja do bolo de horror, naquela casa, há quase 50 anos, uma mulher foi mantida em cárcere privado no sótão e abusada continuamente pelo dono do imóvel. Ela ficou grávida e apesar de tanto o cadáver dela quanto do abusador terem sido encontrados na casa, não houve nenhum sinal da criança, que segundo a pericia legista informou, havia nascido horas antes de a mãe morrer. 

Agora é 1997, após todos os horrores que se passaram naquela casa, mais uma família vai se mudar pra lá. A esposa está grávida. As noticias de crimes violentos continuam, sendo narradas pelo noticiário local. 

Pelo que eu compreendi, a casa no fim fica em alguma espécie de buraco de minhoca/fenda temporal, onde assassinos e vítimas que morreram ali anteriormente conseguem se manifestar fisicamente em certos momentos da madrugada e instigam de forma inconsciente os atuais moradores a cometer novos crimes. 

Mas, eu quero abrir uns parênteses aqui e dizer que, a parte de toda a situação com a casa e o fantasma da mulher, pode-se notar através do noticiário da tevê que às vezes toca como trilha de fundo, que os casos de violência e loucura homicida parecem estar aumentando, como uma doença, um vírus. E a meu ver isso fica bem claro com o desenrolar da minissérie, que a violência urbana é uma praga que tem se alastrado e infectado pessoas das mais diversas idades e classes sociais no Japão. 

Lembrando que o primeiro filme da franquia original japonesa fazia uma critica pesada a violência doméstica, agora na minissérie podemos ver uma abordagem mais ampla e complexa, questionando de forma sutil até que ponto o ser humano pode ir a prol de seus instintos doentios e cruéis. 

As cenas de abuso físico, sexual e violência são bastante fortes, por isso não recomendo esta série para quem não consegue lidar com esse tipo de conteúdo (mesmo sabendo que é ficção).

Cada episódio tem entre 26 e 30 minutos e acredito que não há dublagem em PT-BR e assim como no filme original da franquia, a carga emocional e psicológica é muito pesada, enquanto que o tal elemento sobrenatural (o fantasma) fica em segundo plano apenas como apoio, afinal de contas Ju-on nunca foi sobre sustos e jump scares, mas sim para fazer uma crítica social a violência doméstica nas casas do Japão, que são ignoradas em nome do “estilo de vida” social.

Também há a mensagem de como uma violência pode marcar e acabar com a vida de uma pessoa para sempre e que por mais que ela se esforce para seguir em frente, o rancor, a mágoa e o trauma ficarão para sempre.  

Do ponto de vista cinematográfico a minissérie é muito boa. A ambientação e figurino se encaixam nas décadas de 80 e 90 representadas, a maquiagem artística está boa, apesar de só vermos os pés do fantasma e claro, a falta de jump scares (que são aqueles momentos em que um som muito alto acompanha uma cena que deveria ser de susto) foi um enorme ponto a favor, afinal aqui o horror é desenvolvido em cima do comportamento monstruoso e cruel de seres humanos vivos.

Enfim, a narrativa deixou algumas pontas soltas e mal explicadas, mas ainda assim preciso dizer que não é uma série para fãs de terror enlatado hollywoodiano, nem para fãs de gore em litros. A série é complicada de se entender, uma verdadeira colcha de retalhos para a qual eu tive de ter muita paciência para conseguir organizar todas as informações em ordem cronológica, também não é um material, como eu disse antes, para quem não consegue lidar com cenas de violência física e sexual, mas, como uma crítica a crescente onda de violência doentia que tem acontecido em paralelo com uma possível casa amaldiçoada, é um conteúdo interessante.

Mas infelizmente, preciso confessar que a cena final foi totalmente sem sentido, como um fantasma poderia sequestrar uma mulher viva?  Aqueles últimos 5 segundos do último episódio estragaram toda a construção da minissérie. 

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