Livro - Psicose
Segunda review literária do ano. A bola da vez é “Psicose” de Robert Bloch, publicado aqui no Brasil pela editora Darkside.
Mundialmente aclamado como uma das melhores representações de um assassino serial com dissociação de personalidade, “Psicose” nos apresenta três personagens importantes.
Mary Crane, a secretária gananciosa que rouba 04 milhões de dólares da empresa onde trabalha. Norman Bates, o dono do motel de beira de estrada com hábitos de comportamento muito estranhos e por fim, Norma Bates, mãe de Norman, a qual, durante boa parte do livro, aparenta ser uma mulher idosa com sinais de demência e que necessita de cuidados constantes.
Tomando como base a adaptação em filme de 1960, podemos dizer que a película reproduziu 90% do conteúdo do livro, com exceção do acréscimo daquela famosa frase “O melhor amigo de um garoto é a sua mãe”, pois tal frase não existe no livro. Na verdade, o relacionamento de Norman com a mãe no livro parece muito mais emocional e agressivo do que no filme. Eles discutem o tempo todo e Norma quase sempre se recusa a aceitar as ordens dadas pelo filho, além de julgar seus passatempos como imundos e obscenos.
Eu li o livro em 08 dias, não apenas pelo fato de ele ter menos de 300 páginas, mas sim porque é uma narrativa agradável e fluída. Bloch poderia ser classificado como um misto de Stephen King e Clive Barker, no quesito descrição. Pois, no mesmo momento em que ele se dá ao trabalho de descrever os detalhes do papel de parede do cômodo, deixa para o imaginário do leitor, detalhes bem mais sórdidos e chocantes. Como os relacionados aos assassinatos cometidos.
E existe um detalhe que me agradou um bocado, o qual eu não sei se foi escolha da editora ou se existe na publicação original americana, mas o titulo dos capítulos são na verdade a primeira frase apresentada no parágrafo de abertura de cada um deles. Exemplo: “Pontualmente às seis da tarde…” e quando você começa a ler o capitulo está o resto da frase. “Pontualmente às seis da tarde, aconteceu o milagre”. Eu achei esse artifício de apresentação muito cativante, pois ao ler o titulo/primeira frase do capitulo, já começamos a deduzir o que nos espera.
Nos últimos dois capítulos é por fim explicada corretamente a condição mental de Norman e o que o assolava todos aqueles anos. E o mais importante, nós ficamos a par da personalidade que venceu a batalha mental pelo domínio daquele corpo. “Psicose” é um livro de fácil leitura e entendimento, mas não por isso menos instigante ou perturbador. Vale frisar que ele não gira apenas em torno da famosa cena de assassinato no chuveiro. Na verdade vai bem além, é uma fábula distorcida sobre o amor maternal, um avançado e doentio complexo de Édipo e por fim, o desejo desesperado de se libertar de algo que inicialmente foi decidido de bom grado, mas que agora se tornou um fardo difícil de carregar.
Sobre o autor. Robert Bloch escreveu mais de 30 livros e foi pupilo de H.P. Lovecraft, mas foi com o livro “Psicose” (1959), que foi escrito inspirado pelo macabro caso do serial killer Ed Gein*, que Bloch se tornou conhecido. Um ano depois da publicação do livro, Alfred Hitchcock se interessou pela história e produziu o filme, que foi sucesso de bilheteria.
Foi uma ótima leitura e eu recomendo-o para aqueles que assim como eu gostam de uma narrativa clara e de corte limpo sobre assassinos seriais. Ah e veja o filme do Hitchcock também se tiver uma chance, você não irá se arrepender!
*Segundo uma nota de rodapé do livro, Gein também inspirou a criação dos personagens Leather Face – massacre da serra elétrica e Buffallo Bill – O Silêncio dos inocentes.
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