Fragmentado

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Quando fiquei sabendo da produção desse filme, na metade de 2016 torci feio o nariz. Não gostei da ideia de abordagem do tema (que a meu ver já é bastante estigmatizado só por existir) e dada experiências anteriores ruins com a Universal filmes (cof, cof, Garota Dinamarquesa) meio que peguei implicância das produções mais recentes do estúdio. E com Fragmentado não foi diferente.

Também gostaria de adiantar aqui que, apesar de em diversos parágrafos eu quase informar fatos-chaves do filme, não darei spoilers abertos.
A história começa na festa de aniversário de uma garota. O pai dela oferece carona para duas amigas da menina e enquanto ele está guardando os presentes e quentinhas no porta-malas, é atacado por Kevin, que após deixar o pai fora da jogada, entra no carro e imobiliza as três com algum tipo de gás, clorofórmio talvez.
Após a primeira cena no cativeiro, o filme começa a apresentar uma sequência de outros cenários, lembranças de uma das garotas quando era pequena, uma conversa com uma psiquiatra idosa, Kevin (que se apresenta como Barry) e de volta ao cativeiro. 


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Para quem ainda não pescou no ar, o filme trabalha com (e eu peço aqui desculpas adiantadas caso esteja errando a nomenclatura) o transtorno de personalidades múltiplas, só que essa informação é ministrada em minúsculas gotas, o que faz o espectador levar alguns minutos para juntar todas as peças do quebra-cabeça.
É explicado durante o decorrer do filme que a personalidade original, Kevin, divide o corpo com mais 23 personalidades, apesar de apenas quatro delas aparecerem durante o filme. E aqui está o primeiro ponto negativo do longa-metragem. Quando se trabalha com tantas pessoas (mesmo que todas elas dividam o mesmo corpo) o interessante é, apresentar o maior número possível delas ao espectador e, apresentar uma personalidade ponderadora, aquela que serve de juiz e que dá uma opinião coerente e sensata. Mas no filme, esta personalidade, se é que existia, aparece por menos de 10 segundos, lá no final do filme e em completo desespero.
A história se arrasta com as três meninas presas dentro do cativeiro construído por Hedwig, uma personalidade que tem a idade mental de nove anos de idade e o qual conta as três, que elas foram apanhadas para ser “alimento sagrado” para alguém. Juro que pensei que uma das personalidades era um assassino serial, isso teria sido muito mais plausível do que a explicação recheada de pura ficção cientifica irreal apresentada pelo diretor e roteirista M. Night Shyamalan.


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Particularmente eu não gosto nada de filmes com cárcere privado, me dão desespero, mais até do que qualquer filme de massacre grotesco e cheio de tripas e sangue a granel. Porque pra mim, não há nada mais perturbador do que proibir uma pessoa de ir e vir, sem que ela tenha sido julgada e condenada a prisão. Então, este foi um dos pontos que me fez não gostar de “Fragmentado”.
Confesso que não sei muito sobre transtorno de personalidade múltipla, mas, independente do gênero da pessoa, costumam existir pelo menos três personalidades comuns, uma feminina, uma masculina e uma infantil, que pode ser tanto feminina ou masculina. Existe a personalidade protetora e a original/principal. Mas no filme a apresentação de todas elas é bagunçada, confusa e mal organizada e somente lá no fim do filme é que vemos por alguns segundos a original, Kevin.
Além do fato de que pessoas que tem esse tipo de condição, já sofrem todo tipo de preconceito da sociedade e este foi um dos motivos que eu não gostei do filme. Digo, existem ótimas produções sobre pessoas com transtorno de personalidade múltipla e que são filmes de suspense, muito melhores que “Fragmentado”. Cito por exemplo, Identidade, do Brian DePalma, mas eu vou falar desse filme em outra review.


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A interpretação de James Mc Avoy como as personalidades que nós vemos no filme também é fracas e bem pouco diferenciadas entre si. São pessoas diferentes falando e interagindo, então, não apenas a voz ou o jeito de falar mudam, mas também o comportamento, o gestual, a postura, tudo. E eu não estou falando aqui em figurino ou caracterização, mas sim de interpretação e postura. Nesse quesito Mc Avoy não me conquistou. Eu achei a interpretação dele bem fraca, forçada e genérica.
Correndo o risco de ir contra o que eu escrevi há alguns parágrafos, porque está review foi escrita enquanto eu assistia ao filme, lá por 1h30 do longa-metragem eu finalmente entendi porque as outras personalidades não apareciam. As personalidades mais fortes, Dennis e Patrícia as suprimiram e enganaram Hedwig (lembre-se ele tem só 09 anos) para ajudá-los em seus planos absurdos. Por mais complexo que isso pareça, é possível. Uma ou mais personalidades fortes podem suprimir as outras e tomar controle do corpo.
É raro, já que na maioria dos casos de pessoas com transtorno de personalidade múltipla, ocorre uma democracia de quem tomará conta do corpo naquele momento. Ainda assim, mesmo com essa afirmação, mantenho a opinião de que o filme foi bagunçado, confuso, desorganizado e mal feito. É um assunto complexo e que deve ser apresentado com cuidado. Coisa que não foi feita.


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No entanto se o roteiro não tivesse se enveredado por essa coisa de místico/sobrenatural/divino e tivesse se mantido no bom e velho assassinato em série, como foi o caso de tantos outros filmes que utilizaram do tema de personalidades múltiplas, “Fragmentado” teria sido uma produção mais feliz, a meu ver. Mas a crença de que uma força maior iria devorar as três garotas, tirou qualquer interesse que eu poderia ter no filme, isso somado ao fato da representação extremamente negativa que fizeram de pessoas com esse tipo de transtorno.
Mais uma informação, nos últimos 20 minutos de filme, o comportamento da personagem me lembrou e muito o assassino do livro/filme Dragão vermelho (sim, eu estou falando da trilogia Hannibal Lecter), em Dragão vermelho o personagem acredita que a criatura o manda matar em seu nome. Bem, algo parecido acontece em “Fragmentado”, mas de uma forma bem menos coerente e mais… Fantasiosa, quase lunática e absurdamente irreal.
E a coisa se arrasta por longas e torturantes quase 2 horas de cárcere privado e tentativas infrutíferas de fuga das garotas. Esse foi o filme mais insuportável que eu assisti esse ano, e olha que já vi filmes bem ruins em 2017.

Algumas curiosidades:
- M. Night Shyamalan não resistiu a tentação de fazer uma ridícula pontinha no filme, como técnico de informática da psiquiatra. Yep, ele é um diretor/autor jovem. E eu não gosto nadinha dele e nem do que ele escreve. Espero que agora compreendam meu tom ácido durante essa crítica.
- O titulo em inglês faz muito mais sentido que o em Português. Em inglês o titulo é “split” que significa dividido e realmente, durante toda a história podemos ver que as personalidades estão divididas, e não, como ficou o titulo brasileiro, fragmentadas.
- Segundo informações, Fragmentado tem ligação direta com o filme Corpo Fechado, protagonizado por Bruce Willis em 2000 e que foi fracasso de bilheteria. E claro, é do mesmo diretor/roteirista Shyamalan. 
- E falando em Shyamalan, segue aqui algumas das outras “grandes” produções dele: O ultimo mestre do Ar, A Vila, Sinais e A Dama da Água. Todos, fracassos de bilheteria, especialmente pelos seus desfechos horríveis e forçados. 
- Ah, e não nos esqueçamos que Mc Avoy foi acusado de estupro há alguns meses. Independente de o delito ter sido confirmado ou não, me surpreende ele ter feito não um, mas dois filmes esse ano - Fragmentado e Assassins Creed. 


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Enfim, fiz esta review por causa de uma amiga que teve a infelicidade de ir ver o filme no cinema e saiu totalmente descontente. Eu baixei o arquivo para ver em casa, pois desde que vi o trailer, em 2016, jurei que não gastaria dinheiro com esse filme. Infelizmente, essa má representação de minorias pouco divulgadas parece estar se tornando marca registrada da Universal Filmes.
Não recomendo o filme para ninguém, porque toda a apresentação da personagem Kevin (o qual nós vemos por um vislumbre de míseros cinco segundos de filme) e de suas 23 personalidades é superficial, rasa e extremamente fraca. A narrativa é cansativa e o desfecho não passa de uma viagem ruim de ácido, sem o ácido. É aberto, dando um horrível gancho para uma ridícula continuação, marca registrada de Shyamalan.
“Confiamos nele.”
Se ainda assim você tiver interesse de ver o filme, baixe [via torrent] aqui

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