Feud – Bette&Joan
Essa minissérie aqui foi uma daquelas coisas que você não dá muita atenção, mas ainda assim quer ver, porque conhece as atrizes e porque não tem nada melhor pra assistir. Assim que eu decidi ver Feud, que traduzido livremente para português ficou algo como “conflito”.
Os nomes que me fizeram ter interesse de assistir foram Jéssica Lange, famosa pela franquia American Horror Story e Susan Sarandon, bastante conhecida por sua participação como Janet Weiss na versão original de “The Rocky Horror Picture Show”. Some isso ao fato de que a série apresenta o relacionamento das lendárias Joan Crawford e Betty Davis (interpretadas respectivamente por Jessica e Susan) e do conturbado relacionamento de frenemis (amizade e inimizade) que as duas tinham.
A série apresenta duas atrizes cuja época dourada finalmente passou e agora, com a ascensão de uma nova estrela (Marilyn Monroe) são tomadas pelo desespero, inicialmente por parte de Crawford, que se vê rebaixada a papéis de menor e de personagens como mãe e até mesmo avó. Imagine uma mulher que durante anos recebeu os melhores papéis do cinema, sendo em fim descartada como um objeto fora de uso.
Betty Davis Joan Crawford
Susan Sarandon Jessica Lange
Essa cantinela de que as atrizes de Hollywood têm prazo de validade não é novidade e infelizmente permanece até os dias de hoje, mas, em Feud vemos como as coisas começaram. Inclusive a rivalidade entre Bette e Joan. Foi tudo, como sempre, arranjado pelos homens responsáveis por dar as ordens nos grandes estúdios. Jogar uma atriz contra a outra sempre rendeu manchetes de jornal escandalosas.
Joan colecionou uma série de casamentos fracassados, Bette mora com a filha BD (Bidi) e não se casou novamente. Mas ambas são profissionalmente infelizes e frustradas na vida particular, afinal, quem experimenta os holofotes não consegue jamais esquecer a sensação.
E é quando Crawford procurando um novo roteiro para interpretar, se depara com o livro “O que aconteceu com Baby Jane”, uma história complexa que fala de duas irmãs confinadas a viver na mesma casa, quando uma delas sofre um sério acidente, ficando paraplégica. O que na época do lançamento foi considerado um filme B (produção de baixo custo e normalmente de terror barato) hoje em dia é visto como um dos melhores filmes de terror psicológico de todos os tempos.
Para o desespero de Joan, Bette rouba a cena quando aparece caracterizada de Baby Jane, usando uma das antigas perucas da outra atriz em uma paródia explicita. E durante toda a série elas brigam pela atenção do diretor, dos repórteres, da mídia, enquanto tentam recolocar as próprias vidas nos trilhos.
É possível notar também que ambas se afundam em bebida alcoólica para esquecer os problemas e nos dias de hoje, tanto Davis quanto Crawford seria consideradas alcoólatras inveteradas. Mas ei eram os anos 60! Beber e fumar fazia parte da imagem das estrelas de cinema.
Outro detalhe que chamou muito a minha atenção foi a ambientação e o figurino da série, quem me conhece sabe que eu tenho um fraco por material de época, especialmente se for dos anos 50 à 70 e nesse quesito, a série da FX (sim, você não leu errado, a FX subdivisão da Fox conhecida por só produzir materiais de terror, violência ou “para homens” é quem está produzindo Feud) atendeu todas as minhas expectativas.
E também tem a abertura, que é um detalhe a parte. Elogiada pelo escritor Stephen King, ela é um misto dos fatos apresentados na série com cenas do filme, inclusive detalhes como a disputa das duas pelos Oscar, que nada mais são que um chamariz jogado pelos donos do estúdio para que haja novas brigas entre as duas, resultando em mais escândalos e publicidade negativa. Inclusive, as duas são responsáveis por fornecerem informação a uma jornalista de fofocas, sempre falando podres da rival.
A descrença do estúdio sobre o sucesso do filme é baseada na falta de personagens principais masculinos, já que “Baby Jane” quase não tem homens no elenco. Só que nós também vemos a falta de fé das mulheres na competência de outras mulheres de produzirem qualquer coisa. É como se ao trabalhar tantos anos sob as ordens dos estúdios controlados por homens, elas passassem a desacreditar de suas próprias habilidades e das habilidades das outras.
Jéssica está incrível como Joan Crawford, não apenas na maquiagem, destaque para as enormes e bem desenhadas sobrancelhas da atriz, mas também para o sotaque, cadência da voz e forma com que ela esticava certas palavras. Enquanto que Susan encarnou uma Bette Davis incrível, destaque para a inconfundível gargalhada rouca que a atriz tinha. Elas estão até bastante parecidas fisicamente com as atrizes originais.
Aqui vai um pequeno spoiler para quem ainda não assistiu “o que aconteceu com Baby Jane”, a personagem de Crawford, Blanche, está impossibilitada em uma cadeira de rodas, e depende da irmã Baby Jane para se alimentar. Eis que um dia Jane trás uma bandeja coberta para a irmã, e quando ela abre descobre que, adornado com salada está um grande rato morto. Na época em que o filme foi lançado, alguns anos após Psicose de Hitchcock, esta se tornou uma das cenas mais nojentas do cinema.
Enfim, não vou falar mais ou acabarei dando spoiler da série inteira, mas é uma representação incrivel de dois monstros sagrados (ou seriam divas eternas?) do cinema, que conseguiram ser imortalizadas por papéis em um filme do qual ninguém apostava que daria certo. As picuinhas que as duas fazem uma com a outra chega a ser até cômico, dadas as proporções. E eu que já gostava e conhecia o filme original, porque ei é um clássico dos filmes B! Passei a gostar ainda mais agora que soube de toda a história por trás de sua produção.
Recomendo fortemente para todos que gostam de cinema, dos anos 60 e de guerras psicológicas protagonizadas por duas grandes atrizes (e aqui eu me refiro as personagens e as suas intérpretes).
Confira a abertura da série!
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