Twin Peaks
Meu primeiro contato com os filmes do David Lynch não foram muito agradáveis. Vi pedaços do complexo drama policial “Veludo Azul” e algumas partes do totalmente surreal e igualmente incomodo “Eraserhead”. Anos mais tarde tive contato com um filme dirigido pela filha dele, chamado “Encaixotando Helena”, que era tão perturbador quanto às produções de seu pai. Tendo como base essas péssimas experiências com os trabalhos do Lynch, não era de se espantar que eu o detestasse por tabela.
Assim, quando uma amiga há alguns anos me sugeriu assistir a série Twin Peaks, escrita e dirigida por ele, confesso que tive minhas ressalvas, na verdade, um monte delas e tenho de admitir que da primeira vez que tentei assistir, não consegui passar do primeiro episódio que dura 1h30.
Eis que nesse ano (2017) resolvi dar uma segunda chance a essa série tão cultuada entre os fãs de ficção fantástica e para minha surpresa, me viciei nos episódios e minha opinião negativa sobre Lynch deu uma leve, quase imperceptível diminuída.
A série gira em torno do assassinato da jovem Laura Palmer, que é encontrada nua, embrulhada em um pedaço de lona, na orla da praia da pequena cidade de Twin Peaks. Com a descoberta do corpo de uma garota que quando viva era muito querida e admirada pelos moradores da cidade, também chega o agente Cooper, do FBI, pois o assassinato de Laura parece obra de um Serial Killer que já matou outras garotas em outros estados do país.
Um dia após a descoberta do corpo de Laura, outra garota dada como desaparecida surge andando pelos trilhos do trem, trajando uma camisola em frangalhos, coberta de sangue e tremula. Ela se chama Ronette e é uma vítima sobrevivente do assassino de Laura.
Conforme as pistas sobre o assassinato da garota vão aparecendo, começamos a descobrir que ela escondia outra face cruel, manipuladora, desalmada e extremamente egoísta. Todos na cidade são considerados suspeitos e a cada nova informação, mais sujeira ligada aos poderosos da cidade vem à tona.
E como não podia faltar em uma produção do David Lynch, tem bastante coisa sobrenatural, fantástica na série. Sem falar nos personagens peculiares e caricatos, tais como a mulher do cepo, que carrega um pedaço de tronco pela cidade e diz que ele fala com ela e o próprio agente Cooper, que mergulha com freqüência em sonhos alucinados e premonitórios com criaturas como gigantes e outros seres míticos.
Na verdade, por trás dos assassinatos das garotas existe toda uma mitologia especial criada por Lynch apresentado uma espécie de espírito que precisa de um hospedeiro humano para cometer seus crimes.
Outra marca registrada do diretor é ter pelo menos um personagem masculino agressivo e violento na produção. (Cito aqui o cara viciado em oxigênio de veludo azul e até mesmo o próprio Eraserhead). A bola da vez aqui é Leo, um caminhoneiro que bate na esposa e trafica drogas. As cenas de agressão que ele faz com a garota, Shelley, são bastante incomodas, apesar de serem mostradas de forma apenas parcial. Na verdade nenhuma das cenas de violência é totalmente explicita, o que a meu ver, é um ponto a favor.
A série foi ao ar de 1990 a 1991, quando foi cancelada e teve duas temporadas. A primeira com 08 episódios e a segunda com 22. Também teve um filme, chamado “Twin Peaks – os últimos dias de Laura Palmer” e eu ouvi falar que iria retornar com um especial este ano.
Confesso que Twin Peaks se tornou um “gosto adquirido” daqueles que a gente começa a apreciar por repetição. Nos primeiros episódios eu ainda não sentia tanto interesse, mas aos poucos comecei a gostar e ter curiosidade sobre o que iria acontecer.
Algumas curiosidades:
· David Lynch interpretou um pequeno papel na segunda temporada, como superior do agente Cooper.
· O único nome que eu reconheci nos créditos iniciais foi Piper Laurie, ela ficou famosa ao interpretar Margaret White, a mãe de Carrie na versão de 1976 de “Carrie, a estranha”. Na série ela interpreta Catherine, a irmã do falecido dono da serraria local.
· A atriz que interpretou Laura Palmer (e mais tarde sua prima Maddie) era totalmente desconhecida, tendo atuado apenas em peças teatrais amadoras até ter sido convidada por Lynch a participar da série.
· O Agente Cooper grava praticamente tudo o que faz em um gravador portátil, sempre se dirigindo a sua secretária, Daiane (Diane). No começo a gente acha engraçado, mas após alguns episódios, a coisa fica tão natural que nem nos importamos mais.
· Talvez possa ser considerada uma curiosidade negativa, mas, nas duas temporadas eu não vi uma única pessoa negra tendo um papel fixo na série. Os únicos dois atores negros que eu vi, foram fazendo pontas em que apareceram em no máximo 2 episódios a segunda temporada.
Enfim, Twin Peaks é uma dessas séries que divide opiniões. Ou você a ama ou a odeia, afinal as peculiaridades bizarras são tantas que pode ofender ou irritar um grupo de pessoas. Eu normalmente não gosto de séries de assassinato que se esticam tanto assim, mas, essa aqui até que tem seu charme estranho.
Recomendo-a para pessoas fãs de roteiros fora do padrão hollywoodiano, que gostam de histórias com um pé no sobrenatural e no fantástico e claro, que gostam dos filmes viajados do David Lynch.
“…O fogo anda comigo.”
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