A casa que Jack construiu



Pro pessoal fã de cinema extremo, o diretor deste filme já é um velho conhecido.

Lars Von Triers é um homem polêmico que cria longas-metragens perturbadores e incômodos há muito tempo e é um dos meus diretores de cinema favoritos, apesar de eu não concordar com as declarações que ele faz como pessoa.

E este aqui é uma narrativa de 2h30 sobre a vida de um Serial Killer (assassino em série), chamado Jack, desde a infância perturbada até seus crimes mais recentes, tudo isso feito em um paralelo com o livro “A divina comédia” de Dante Alighieri.

E como todas as produções do diretor, este aqui também é dividido em capítulos, que são chamados de “incidentes” e segundo Von Triers, o personagem foi inspirado em “Jack, o estripador” que matava mulheres na Londres vitoriana (entre 1888 e 1891).

A forma como Jack aborda as vítimas às vezes é desorganizada e confusa, nada parecido com seriais killers que estamos acostumados a ver em filmes. E isso se estende ao descarte dos corpos também, essas cenas tornam o filme mais realista.

Jack é um assassino com TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), e mania de limpeza, o que obriga a retornar a um dos locais de assassinato para conferir se não ficou nenhuma mancha de sangue escondida, pois na cabeça dele, existem manchas ocultas em lugares que seria impossível ter espirrado sangue.

E essa compulsão por conferir se ficou algum vestígio do crime no local é um comportamento incomodo e sufocante para nós que estamos assistindo o filme, porque ele retorna várias vezes até a casa, antes de descartar o corpo da vítima, para conferir as supostas marcas deixadas para trás.

E durante o filme, o personagem fala da tal casa do título, a que ele estava construindo e nós vemos as várias tentativas de montagem do tal lugar, com diversos materiais e o perfeccionismo de Jack em construir a casa ideal.

Falando agora do ponto de vista técnico agora, a câmera é vacilante e irregular, o que significa que, durante os “incidentes”, a imagem balança e fica meio tremida, como se estivesse sendo feita sem um tripé. É como se fosse uma filmagem amadora da cena. Além do uso de ilustrações, filmagens de arquivo e música clássica na trilha sonora.

Se você se interessou em ver o filme, preciso alertar que além da longa duração (2h30), ele também utiliza de várias metáforas e linguagem filosófica durante a narração e por isso não é um filme fácil de assistir por, além dos motivos que eu citei antes, também pela complexidade narrativa apresentada.

Vale citar aqui também que existem cenas de crueldade com animais, apesar dos bichos ter sido feitos com computação gráfica (ou seja, nenhum animal de verdade foi ferido nas filmagens) as cenas são bem realistas e incomodas.

Mas, se você gosta de filmes de serial killers fora do padrão hollywoodiano, “A casa que Jack construiu” será um prato cheio e indigesto, como bons filmes perturbadores devem ser.

Enfim, é uma narrativa inteligente e simbólica sobre o ato de matar, salpicada com cenas de violência e questionamentos filosóficos, além de metáforas sobre a vida e a morte e o questionamento de algo no além-vida.

Algumas das cenas são doentias e perturbadoras, não só pelo elemento visual, mas por toda a carga emocional que elas carregam.

Não é um filme para quem gosta de coisas rápidas e que são entregues mastigadas ao espectador. Aqui a compreensão da narrativa é algo particular e complexo, exigido do filme às pessoas que o estão vendo. Mas é um exercício mental interessante, tentar montar todas as peças do quebra-cabeças apresentadas durante o filme, para se criar um perfil psicológico do Jack.

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