O Poço [2019]
“Existem três classes de pessoas.
As de cima, as de baixo e as que caem”
Esta
frase abre o filme “O poço” que pode ser entendido como um grande experimento
social, em que duas pessoas ficam em cada um dos andares de um prédio, no
centro do qual há um buraco quadrado, por onde desce uma plataforma de comida.
Logo no
começo do longa-metragem vemos uma suntuosa cozinha, com pratos requintados e
música clássica, é de lá que a plataforma desce. Mas, quando ela chega ao nível
onde o protagonista está, o n.48, muito da comida está destroçada pelos
moradores dos andares de cima e aqui entra a primeira questão: qual a
necessidade mesquinha de desmanchar e esmagar comida que não se vai consumir,
sabendo que há pessoas abaixo de você que estão com fome?
Não se
pode ficar com nenhum alimento que vem da plataforma, deve-se comer enquanto
ela está no piso. Guardar alimentos resulta em punição para os residentes do
andar em questão.
Pode-se
trazer apenas um objeto para dentro do Poço, o protagonista, que se inscreveu
de forma voluntária para participar do experimento, em uma tentativa de parar
de fumar, resolve levar um livro.
E aqui
que as coisas começam a ficar estranhas. O cadáver de uma pessoa do andar de
cima é atirado para baixo, uma moça estranha surge em cima da plataforma de
comida, o velho que divide o andar com protagonista conta que ela está
procurando o filho nos andares inferiores. O tal “Poço” é uma terra sem lei,
onde os residentes fazem o que bem entendem com seus colegas de andar, sem
sofrer punições.
As
mudanças para andares aleatórios são feitas durante a noite, enquanto os
residentes estão dormindo e nada me tira da cabeça que eles são drogados com
algum tipo de gás, para não acordarem durante a transferência.
E
conforme o protagonista vai passando seu tempo dentro do Poço, ele começa a
descobrir mais informações sobre o lugar, como o numero de andares e os
critérios para aprovação de novos “residentes”.
E vemos
como o egoísmo humano se coloca acima da vida de outras pessoas e como,
infelizmente, o ser humano só respeita algo quando sofre uma ameaça.
Confesso
que quando apareciam cenas da cozinha, no primeiro nível superior do Poço, me
dava uma raiva, porque o responsável brigava com os cozinheiros por detalhes
ridículos como a quantidade de azeitonas num prato, sendo que, no momento que a
plataforma começava a descer, a gente vê as pessoas devorando de forma glutona,
engolindo e socando goela abaixo muito mais do que precisam pra se manter
satisfeitas, só pra não deixar nada pros níveis inferiores. A cena em si é
grotesca e nauseante, ver comida ser tratada daquela forma.
A parte
do “terror psicológico” fica com as alucinações que o protagonista começa a ter
com as pessoas com quem ele dividiu um andar e que agora estão mortas, além é
claro de todo o jogo psicológico de poder e crueldade aplicado pelos demais
moradores do Poço.
O roteiro
tem menções a canibalismo, estupro e assassinato, cenas que se tornam mais
explicitas do meio para o final do filme. Vale citar aqui, para quem não
consegue lidar com cenas de crueldade contra animais, que tem uma sequência bem
grotesca envolvendo um cachorrinho salsicha (agora imagine o meu mal estar,
pois eu tenho uma dessa raça).
Filme
perturbador e doentio, mas que me lembrou muito “O expresso do amanhã” do
diretor Bong-Jon Woo (Parasita), que trabalha com a mesma ideia de mecanismo,
mas com vagões de trem no lugar de andares, é uma boa pedida para quem gosta de
filmes sobre experimentos sociais e representação comportamentais doentias dos
seres humanos.
Tem na
Netflix, mas se você não assina o canal de streaming, baixe aqui:
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