11.22.63
Eu me lembro como se fosse hoje quando Stephen King anunciou o lançamento do livro, Novembro de 63, que tinha como plot principal a seguinte promessa “E se você pudesse voltar no tempo e impedir um assassinato e assim, alterar todo o curso da história?”. Bom, passaram-se alguns anos desde o lançamento do livro e eu ainda não consegui botar a mão num exemplar.
Foi então que no final de 2015 a Hulu (um serviço de vídeos online parecido com a Netflix), anunciou que produziria uma minissérie em cima do livro. No começo eu tive receio, não gosto nada de adaptações feitas em cima de materiais já existentes, mas, quando o primeiro episódio foi disponibilizado, por volta de fevereiro de 2016, eu o assisti e me lembro que no dia, sai do computador e fui pro notebook falar o quanto criei expectativas com a minissérie. Desculpe se estou enrolando demais, mas é Stephen King, meu autor favorito e eu preciso florear um pouco esta review antes de falar da minissérie em si.
Okay vamos ao enredo. Em 22 de Novembro de 1963, na cidade de Dallas-Texas, John F. Kennedy foi assassinado pelo franco-atirador Lee Harvey Oswald. Isso é história e fato comprovado. Mas e se, alguém pudesse voltar até os anos 60 e impedir que Oswald cometesse esse crime? Isso mudaria tudo não? É aqui que entra o personagem-principal da história, o professor de inglês Jake Epping, interpretado por James Franco.
Mas o primeiro episódio não abre com ele, mas sim com um de seus alunos do programa de educação para adultos que conta em uma redação bastante tensa que quando era criança, viu seu pai matar a mãe e os irmãos com um martelo e sobreviveu apenas porque se fingiu de morto. Mas ficou com graves seqüelas mentais.
A aula chega ao fim e somos então guiados através dos compromissos de Jake até pararmos em um restaurante. O dono do local se chama Al. Num momento o homem está ótimo, saudável como um touro e no seguinte, após uma ida e volta à dispensa, está acabado. Câncer ele diz. E seu fim está se aproximando, não há muito mais tempo. Por isso ele precisa que Jake o ajude e termine o serviço.
A verdade é que, dentro da dispensa do restaurante, existe uma espécie de passagem para o passado, a qual Al chama de “Toca do coelho” (talvez em uma referência indireta a Alice no País das Maravilhas). Após empurrar o professor para dentro e Jake ver com seus próprios olhos que esta em plenos anos 60, ele deixa de pensar que tudo o que o dono do restaurante falou eram delírios de um doente terminal.
O plano é confirmar se Lee Harvey Oswald realmente planejava atirar em JFK e se a resposta for positiva, impedi-lo. Nem que para isso ele precise ser morto. Só que sempre que alguém entra na “toca do coelho” é 11h28 do dia 21 de Outubro de 1960. Ou seja, para o plano dar certo é preciso residir no passado por pelo menos três anos. E quando se retorna para o nosso tempo, só terá passado 2 minutos. Independente da quantidade de tempo que se ficou no passado.
Após ouvir o discurso de Al de como impedir o assassinato de Kennedy poderia mudar o futuro de toda uma nação de forma positiva, (Sem guerra do Vietnã, todos aqueles meninos estariam vivos), Jake retorna ao passado, agora sob o nome de Jake Amberson. Al o instrui exatamente de tudo o que ele terá de fazer para confirmar as informações e o alerta que quando estiver perto de alterar algo, o passado revidará, tentando impedi-lo.
Mas acontece algo que não estava no programa. Jake se apaixona. O primeiro encontro deles é quando a moça ainda é casada, o que torna tudo impossível – são os anos 60, lembre-se disso! No entanto, mais para frente eles se reencontram, ela agora é divorciada, outra informação que deve ser mantida em segredo, por não ser de bom tom. O nome dela é Sadie Dunhill.
Jake também arruma um aliado, um rapaz chamado Bill que após segui-lo e intimidá-lo com um revolver, acaba acreditando em toda a história de impedir o assassinato e mudar o curso da história. Eles alugam um apartamento sob o de Lee e instalam escutas na casa do outro, para monitorá-lo. Disseram-me que Bill não existe no livro. Mesmo assim, eu gostei dele, é um garoto inteligente e esforçado.
Enfim, tive contato com algumas pessoas que reclamaram da adaptação, por não ser muito fiel ao livro, mas é preciso pesar algumas coisas. O livro tem por volta de 600 páginas; adaptar uma história com pano de fundo histórico e teor tão complexo em 08 episódios foi uma proeza. Claro que posso citar outra adaptação com menos episódios e que quase não deixou a desejar, “Saco de Ossos”. Mas dadas as proporções, eu achei que foi uma boa adaptação. No entanto lembre-se, eu ainda não li o livro.
Tudo na série é bastante consistente com o período histórico. Os figurinos, os cenários, os diálogos, inclusive os detalhes negativos, como a segregação racial ainda vigente no país – apesar de ser mais ou menos por estes anos em que aconteceria o boicote aos ônibus por Rosa Parks e que Martin Luther King faria seu famoso discurso.
No entanto tem um detalhe positivo que eu preciso ressaltar, existe uma cena de baile escolar que eu assisti com fascínio genuíno, especialmente pela cena de dança entre Sadie e Jake. Também preciso falar da trilha sonora, algumas músicas eu reconheci, aquelas tocadas a exaustão nos filmes antigos, mas outras foram totalmente novas para mim.
Conforme os episódios vão se desenrolando, você começa a ansiar e se desesperar junto dos personagens, torcendo para que certas coisas aconteçam ou não. Pelo menos comigo foi assim, eu vivi cada um dos oito episódios e teve momentos que enfiei o rosto tão perto da tela, pra ter certeza do que estava vendo, especialmente por conta dos pequenos easter eggs não propositais colocados nos episódios. Você vai saber quais são quando vê-los.
A abertura é outro ponto que vale muito a pena citar. Ela apresenta uma linha vermelha que se interliga a todos os acontecimentos envolvendo o assassinato de JFK e alguns detalhes dela mudam em cada um dos episódios, sempre acrescentando informações. No ultimo, ela deu alguns grandes spoilers do que aconteceria.
Só senti falta de uma coisa na série, que pelo que eu ouvi por ai, é bastante citada no livro. É uma bebida, Moxie, não sei dizer se é uma cerveja ou um refrigerante, mas me falaram que é muito mencionada no livro. Na série, se apareceu um outdoor fazendo propaganda dela foi muito. Enfim, como eu disse, foi preciso fazer alguns cortes. Mas todos sabem que a adaptação em filme nunca fica igual ao livro e isso é fato.
Assisti aos dois últimos episódios de uma só vez e com o coração na mão, vi se desenrolar diante dos meus olhos um enredo que já foi abordado em outros materiais como “Donnie Darko” e “Efeito Borboleta”, apenas para citar alguns. É a representação clássica da teoria do caos, onde uma borboleta bate asas na Malásia e causa um terremoto na Itália. Onde mudar um único detalhe do passado pode alterar todo o curso futuro da história e onde para o bem de pessoas queridas, às vezes é melhor jamais tê-las conhecido.
Uma série bem amarrada com detalhes históricos e um final tocante que me fez derramar pelo menos um par de lágrimas, 11.22.63 é uma boa pedida para quem gosta de ficção científica misturada com uma volta ao passado. Sou muito feliz de ter assistido a minissérie e poder ter feito esta review, espero que assim como eu, vocês se maravilhem com a missão complexa de Jake de impedir o assassinato e mudar o curso da história ao mesmo tempo em que tenta manter a salvo a mulher que ama.
“Se você tentar mudar o passado, ele vai revidar de volta.”
Esta review foi um pedido de Roberta Braga
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