Livro - Revival
Minha terceira leitura de 2016 foi essa viagem incrível e perturbadora ao Maine, mais uma vez, onde nas quase 400 páginas que compõe este romance de um dos meus autores preferidos, Stephen King, é possível ver o crescimento do personagem-narrador, James (Jamie) Morton e seus vários encontros com seu antagonista, Charlies Daniel Jacob.
O titulo faz menção direta as “tendas de reavivamento” que nada mais são do que tendas montadas no meio do nada onde charlatões dizem poder curar as pessoas das mais diversas e complexas enfermidades. Só que, neste caso, os reavivamentos tem um preço, um efeito colateral se preferir, e são bem caros. Mais do que qualquer dinheiro do mundo possa pagar.
A história começa quando Jamie é ainda uma criança de 06 anos. Ele está brincando de fazer fortes de areia no quintal, quando então uma sombra cobre suas costas. É Charles, um jovem de vinte e poucos anos, que na época, atendia pelo titulo de Pastor Jacob. Eles tem uma breve conversa e Daniel ajuda o menino a fazer cavernas de areia que não desabam. Nesta época o pastor ainda era um religioso idealista, que na companhia da esposa e do filho pequeno, planejava oferecer maravilhas e curiosidades elétricas para as crianças que freqüentavam a igreja, em uma forma de ensiná-los sobre a religião.
Mas após um acidente trágico envolvendo a família de Charlies, ele se torna descrente, amargo e rancoroso. E é aqui que é dado o ponta-pé inicial para o desfecho perturbador que acontece no penúltimo capitulo do livro. O tempo passa e Jamie e Charlie tomam caminhos diferentes,
Jamie se mete em alguns problemas bem sérios e é quando está no fundo do posso que ele reencontra o que costuma chamar de “Seu quinto personagem” (uma das muitas expressões para se referir ao “vilão” da trama). Charlies, agora Danny Jacob, se apresenta em uma tenda em uma dessas feiras itinerantes com o que ele chama de “Retrato com raios”. Mas o que ele segreda a Jamie é que, tem trabalhado em segredo numa espécie de energia especial, através de aparelhos criados por ele mesmo.
Charles (que agora não é mais pastor), cura Jamie de um vicio que estava atrapalhando sua vida há alguns anos, mas, como foi dito lá em cima, nenhuma dessas curas vem sem um preço e certa noite Jamie acorda furando o próprio braço com um garfo enquanto repetia sem parar “Alguma coisa aconteceu”.
Passam-se mais alguns anos e agora Charlies coordena uma grande tenda de reavivamento itinerante. É neste mesmo período que Jamie decide investigar o outro e descobrir quantas dessas curas resultaram tiveram efeitos colaterais compulsórios. A lista é bem longa.
Pode-se notar durante a narrativa que Charlies e Jamie estão conectados por algum tipo de ligação invisível que sempre os reaproxima, como um imã e um pedaço de metal. Por mais que Jamie deixe claro que não deseja rever o outro nunca mais, situações que o obrigam a ir ao encontro do homem acontecem, forçando-o.n
Li Revival em um mês e tenho de confessar, é uma leitura exaustiva, quase se aproximando de outro livro do King, Insônia, este eu levei mais de três meses para terminar de ler. Mas, enfim, não estou dizendo que o livro seja ruim, apenas que a escrita é um pouco arrastada e meticulosa, o que nos faz demorar mais para terminar nos capítulos.
Falando em capítulos, os deste livro não têm títulos coerentes, mas na verdade, são compostos por pequenas frases sem conexão entre si, mas que costumam ser informações importantes do capitulo. Em um resumo rápido eu diria que Revival é sobre a exploração da fé para fins obscuros e assustadores, a perda da crença e a luta pela sobrevivência e também sobre a trajetória de uma pessoa, da infância até a velhice lutando contra um mal totalmente humano.
Como já foi dito por críticos na época que o livro foi lançado, o desfecho é puramente lovecraftiano, especialmente as criaturas, entidades e comportamentos descritos na cena, além do pensamento pessimista e cético de como seria a vida após a morte.
Recomendo a leitura para aqueles que gostam de uma boa história repleta de detalhes e lembranças, mas com um final impactante e macabro. King evoluiu na escrita desde Carrie, a estranha, amadureceu, mas não perdeu o jeito de contador de histórias ao redor da fogueira de sempre.
“Alguma coisa… Acontece. Aconteceu, alguma coisa, alguma coisa aconteceu”
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