Celular
Imagine que é o fim do mundo. Mas nada de bombas, nada de tiros, nada de quatro cavaleiros do apocalipse. Imagine que o responsável por tudo foi um simples e inocente aparelho de telefone celular. Esse é o enredo base do filme baseado no livro homônimo.
Quem acompanha as reviews aqui há algum tempo já está cansado de saber como eu sou fã do Stephen King. Li quase todos os livros dele, vi quase todas as adaptações em filme. E esta aqui não foi diferente. Veja bem, eu li “Celular” em 2015 e quando estava terminando o livro, fiquei sabendo que no ano seguinte sairia uma adaptação. Como sempre sofri com sentimentos conflitantes, afinal, tenho os dois pés atrás com adaptações em cima de material já existente, vocês sabem não é? Depois de se ver tanta adaptação ruim, a gente começa a ficar desconfiado.
A história do filme começa um pouco diferente da do livro em questão de cenário. No livro o surto de ataques acontece em uma rua movimentada e no filme, em um aeroporto. Mas fora isso, todos os elementos principais estão lá. A histeria coletiva, as dores de cabeça, seguidas por ataques violentos e impulsivos contra outras pessoas ou ao próprio corpo e até… O canibalismo que um homem faz ao atacar um cachorro vivo. Esta cena já foi perturbadora no livro e se tornou quase insuportável no filme. O lado bom é, se você pular ela, não terá mais nenhuma cena de ataque a animais.
Enfim, Clay Ridell, é um artista que está tentando vender sua primeira graphic novel e após muito tempo ele finalmente conseguiu! Está feliz e programando ir visitar o filho e a ex-esposa em breve. Mas tudo muda quando acontece o que no livro chamam de “O pulso” que foi a onda eletromagnética que atingiu todos os usuários de celulares que estavam com o aparelho encostado contra a orelha naquele momento.
Este pulso transformou todas as pessoas afetadas em zumbis agressivos, que não pensam e apenas agem em um comportamento de rebanho. Lembrando aqui que eu detesto zumbis, mas os desse filme/livro eu relevei, porque eles não têm a aparência grotesca dos mortos-vivos da franquia do George A. Romero. Eles ainda são esteticamente humanos e tem um diferencial bastante negativo para os sobreviventes. Eles correm. Bem rápido.
Ajudando Clay em sua jornada para chegar a cidade de Kent Pond, onde estão a ex-esposa e o filho, estão Tom McCourt, um homem cauteloso e um tanto desconfiado e a jovem Alice Waxman, que foi obrigada a matar a própria mãe com uma faca de cozinha, para não ser devorada viva pela genitora.
Aos poucos o trio descobre como fugir dos afetados pelo Pulso. Quando o sol começa a se por, eles se agrupam e se recolhem em algum lugar (para recarregar as baterias talvez) e é nesse horário, à noite, quando é seguro viajar. Todos os transportes estão inoperantes, as estradas, atulhadas de carros batidos e abandonados, então, o trajeto é feito a pé.
Por fim eles acabam chegando a uma grande escola particular, na qual agora residem apenas um bolsista e o diretor. E no campo de atletismo do prédio, mais de 500 infectados que costumam usar o espaço para dormir a noite. E então vem a grande ideia. Vamos queimá-los todos! A cena da chacina é algo a se admirar, pois foi descrita exatamente tal qual a do livro, inclusive os corpos em chamas se levantando desesperados. E o filme segue daí até um final perturbador e aberto.
Confesso que não me encantei totalmente com a adaptação. Claro que gostei de alguns detalhes, como, por exemplo, o personagem Tom ser interpretado por um ator negro, já que no livro sua etnia não é explicitada. O ator em questão é ninguém menos que Samuel L. Jackson. Ele e o ator que faz o Clay (John Kusack) já contracenaram em outra adaptação do King, o filme sobre o quarto de hotel mal-assombrado, “1408”.
Apesar da falta de várias cenas e alguns detalhes, como o sapatinho de bebê que Alice amarra no pulso como um talismã macabro, o essencial do livro, que eu preciso confessar, tem uma parte bem lenta e cansativa, está ali, só que um pouco mais dinâmico. Inclusive a cena que me fez chorar como criança por uns cinco minutos enquanto abraçava o livro está lá. Quando vocês verem o filme, com certeza vão saber de qual cena eu estou falando.
Enfim, o filme termina bem diferente do livro. Na verdade eu tenho a impressão que o final do filme foi feito para dar um significado a toda a história. Pois o livro termina em aberto e eu me lembro que na época fiquei com muita raiva daquele final. Gostei do que vi, pois quase chorei com a primeira parte do final do filme.
Não é o tipo de longa-metragem pra quem procura tripas a granel e sangue esguichado na tela de quinze em quinze segundos. É um filme lento e um pouco confuso (exatamente como o livro) e com um final que é parte comovente e parte perturbador. Recomendo para os fãs do King que ficaram indignados com o final do livro, para os que gostam de uma história apocalíptica e para os que têm interesse por material com temas como transmissão zumbi por satélite e comportamento de rebanho.
Curiosidades:
A atriz que interpreta a Alice, Isabelle Fuhrman, ficou conhecida pelo seu primeiro papel ao interpretar Ester em “A Orfã”.
Em nenhum momento os afetados pelo pulso são chamados de zumbis. Sempre são chamados de “fônicos”/“Fonóides”
KASHWAK NO FO é uma frase que aparece escrita por todos os lugares no livro, mas é só brevemente citada no filme. Kashwak é uma reserva natural no estado do Maine.
“Pra vo-você”
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