3%

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 Eu costumo fugir de séries que todo mundo fala muito, porque em 99,99% das vezes, elas são ruins ou não me agradam ou as duas coisas ao mesmo tempo. Um caso clássico foi “Jessica Jones” que não foi àquela coca-cola toda que eles prometiam na divulgação. Não sei se sou eu que estou envelhecendo e me tornando uma pessoa rabugenta e exigente demais ou se são os enredos das séries novas que tem se tornado sempre mais do mesmo.


E eis que quase terminando 2016 eu ouço falar dessa nova minissérie da Netflix, chamada 3% e que apresenta um enredo interessante, a primeira vista. Em uma sociedade distópica, todos os anos jovens são convocados para participarem de um processo seletivo, que segundo a organização, levará os sortudos 3% restantes deles até um lugar chamado “Mar alto” onde a vida é maravilhosa e perfeita. E existe esse grupo de pessoas que foram rejeitados durante o processo de filtragem e que criaram um movimento de resistência que eles chamam de “A causa” (eu teria pensado num nome um pouquinho melhor).
Conforme eu fui vendo os oito episódios da temporada, fui relembrando de uma série de outros materiais sobre distopia que oferecem o mesmo enredo. A promessa de uma vida melhor e a seleção “natural” feita para filtrar os merecedores. Como exemplos posso citar “A ilha”, “Admirável mundo novo” e de certa forma “Jogos vorazes”, “Divergente” e até (por que não?) “Jogos Mortais” e o conto de Shirley Jackson “A Loteria”. Acredite, se você tiver contato com pelo menos um desses materiais vai ver semelhanças gritantes (quase plagiais) a série 3%. 
Eu tive a nítida impressão que os produtores da série tentaram fazer algo na linha “Black mirror” serie também original da Netflix e bastante perturbadora, mas, esqueceram de colocar algo na receita. Coerência e enredo. Todas as informações são atiradas de forma desorganizada na cara do espectador que não tem nem tempo de digerir os fatos, antes que mais uma dose cavalar seja socada garganta abaixo.
Além de em paralelo ter aquela clássica disputa ridícula por poder entre o atual responsável pela seleção e gente de fora, que o acha desqualificado e visa tomar seu lugar. Uma parte totalmente burocrática, maçante e dispensável.
A história foi muito mal desenrolada, patinando por mais de um episódio no passado de personagens que poderiam ter sido resumidos de uma única vez. Além é claro, da interpretação rasa dos atores e do cenário mal feito, praticamente todo montado em cima de painéis verdes.
Uma coisa que me irritou foram algumas práticas de tortura representadas na minissérie, como por exemplo, o famoso “pau de arara” tão usado no falecido e enterrado regime militar brasileiro. Eu digo, se era algum tipo de critica social o tiro saiu pela culatra, afinal, aquilo me pareceu mais uma homenagem disfarçada do que qualquer outra coisa.  
A decisão final para ir para o tão maravilhoso lado de lá é bastante polêmica, para algumas pessoas. Para mim não faria a menor diferença, confesso. E como toda boa história sobre distopia e utopia social, a série termina em aberto.
Chegando agora aqui no fim da review, vou informar um detalhe que omiti para não parecer uma pessoa com “síndrome de vira-lata”. A série é brasileira e eu confesso que vi muito potencial para algo grande e incrível nela, durante todos os oito episódios, mas foi tudo engolido na bagunça de enredo atirado na cara do espectador de qualquer jeito e com violência.
O único ponto positivo da série, não teve cenas de estupro ou uso de drogas ilícitas. De resto, eu mandaria todos os roteiristas de volta a prancheta de desenho, especialmente pelo excesso de cenas de sexo entre dois dos participantes.
Enfim, existem séries, filmes, livros e contos muito melhores sobre distopia sociais por ai, escritos e dirigidos por autores e diretores de várias nacionalidades, mas 3% certamente, no meu conceito, não é um deles.
“Você foi eliminado do processo”

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