Lady Bird
Há exatos dez anos eu abandonei o Oscar. Não acompanho mais a premiação por uma série de motivos diversos, com isso, tenho me sentido livre do “peso” de assistir os indicados a premiação anualmente. Mas alguns indicados desta edição de 2018 me chamaram a atenção e eu resolvi assisti-los, só que, sem aquela pressão de analisá-los pelos olhos julgadores do que a Academia poderia vir a gostar.
Entre os que concorrem a estatueta este ano e que eu planejava assistir estava Lady Bird, filme que foi amplamente elogiado em festivais e circuitos cinematográficos, mas, acho que não preciso dizer que não me baseio nesse tipo de opinião quando faço minhas reviews, não é? Mesmo assim, estou dizendo agora.
O filme fala de Christine (que prefere ser chamada de Lady Bird) uma jovem que apesar de querer muito ir para uma faculdade em Nova York, vê todas as suas chances escorrerem pelos dedos ao mesmo tempo em que, por ainda fazer parte do ensino médio, ter de frequentar um colégio católico que vai totalmente contra vários pontos de sua postura social.
E tendo esse ponto como partida vamos vendo as inconstâncias da personagem dentro da sua adolescência e ao mesmo tempo em que tenta se afirmar como jovem adulta, ela acaba praticando clichês bobos de filmes adolescentes, que incluem desprezar a melhor amiga para sair com a garota popular e tentar perder a virgindade.
A família de Lady Bird é complicada, a mãe, enfermeira, apesar de querer o melhor para a garota, não quer que ela vá estudar fora da cidade. O irmão que mora com a namorada na casa, parecem um casal de estranhos gêmeos, já que por estarem em um relacionamento perderam totalmente sua individualidade como pessoas e por fim, o pai, com diplomas e MBAs, não consegue um emprego por conta da idade, mas, dos quatro familiares, ele é o mais apoiador e simpático. Gostei dele.
O filme, apesar de ter apenas 1h30 de duração, vai se desenrolando de forma calma, nos apresentando as informações sem pressa ou desespero. É um filme gostoso de se assistir, se você curte materiais sobre cotidiano, vida adolescente, mudanças, conquistas. Coisas simples.
Porque ao contrário de vários outros materiais, não existe nenhum momento de virada, não tem aquele detalhe que te deixa com a boca aberta e expressão de surpresa. Na verdade em Lady Bird é tudo bem tranquilo, não há plot twists.
Tem uma cena, quase no fim do filme, quando Lady Bird completa 18 anos e ela vai numa loja de conveniência e compra um pacote de cigarros, um bilhete da loteria e uma revista pornográfica, por que? Porque agora ela tem 18 anos! Foi uma cena tão simples, mas ao mesmo tempo tão significativa.
O filme aborda também, mesmo que superficialmente, a fixação pelo corpo perfeito e o desejo da personagem em ter um transtorno alimentar, como se isso fosse uma coisa boa e não uma doença. Também fala da tão comum paixão platônica da aluna pelo professor e do sentimento de impotência e frustração que fica com os pais, quando os filhos saem de casa.
Alguns pontos a se destacar sobre o filme é que, apesar de apresentar uma história adolescente, não ocorre nudez desnecessária, consumo impróprio de bebidas alcoólicas, assédio, estupro, qualquer tipo de violência física ou verbal, machismo ou objetificação das personagens femininas, acredito que tudo isso em parte pelo fato de o filme ter sido dirigido e roteirizado por uma mulher, Greta Gerwig.
Teve apenas uma coisa que me incomodou, e foi mais na parte da legenda do que do filme em si, foi que, a pessoa que fez a tradução, fez a burrice de tentar adaptar termos e expressões americanas para o Brasil, o que foi um grande erro, já que descontextualiza o roteiro, além de enfiar frases de efeito que só fazem sentido aqui no Brasil.
Mas enfim, é um filme bonito, não sei se será bom o suficiente para ganhar um Oscar, mas ganhou um espacinho no meu coração. Assista quando você não estiver com pressa e quiser algo simples e que te faça rir e chorar um pouco.
“Eu queria te contar… Eu te amo.”
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