Fome de viver

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Eu sempre fui muito fã de materiais sobre vampiro, me pergunte sobre um título qualquer e é quase certeza de que eu já tive algum contato com o material. Acho toda essa coisa de viver eternamente e se alimentar da vida dos mortais algo extremamente fascinante.
Então, claro que eu já havia ouvido falar do filme “Fome de viver” (Ou apenas “A fome/The Hunger” no original). Eu sabia que era um filme estrelado por nomes de peso como Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon e também sabia sobre a trilha sonora e o figurino, levando em consideração que o filme foi produzido em 1983 (cinco anos antes de eu nascer), no auge da cultura gótica.
Mas, mesmo assim, até alguns dias atrás eu não tinha tido… A palavra certa seria tempo, mas algo me diz que interesse também se encaixa aqui, para assistir ao tal filme. Eu até cheguei a baixar o arquivo e excluí-lo, mas, quando um amigo que sabe que eu gosto de vampiros me sugeriu o filme, pensei, “tá ai, preciso dar uma chance”. E aqui está a minha opinião.
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Para começar esqueça tudo o que você sabe sobre vampiros, este filme pega uma linha bem diferente de abordagem. O casal de protagonistas, John (David Bowie) e Miriam (Catherine Deneuve) andam na rua durante o dia e não se alimentam da forma “convencional” com caninos pontiagudos saltando da arcada dentária. Na verdade no filme tudo é muito mais sutil, delicado, quase simbólico.
Nos primeiros minutos do longa vemos o casal fazendo a caça dentro de uma boate gótica, ao som de “Bella Lugosi’s Death” da banda Bauhaus, que inclusive faz uma ponta no filme. Eles escolhem um jovem casal e os levam até a sua casa. Cada um se ocupa de um dos humanos e então, removendo um ankh (cruz egípcia, muito utilizada dentro da cultura gótica) que esconde uma pequena adaga, golpeiam suas vítimas e bebem seu sangue.
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Mas alguma coisa de errado está acontecendo com John, ele está envelhecendo e muito rapidamente. Apesar de nada ficar explicitamente explicado (pois se lembre, este é um filme apoiado em simbolismos e metáforas) eu pude deduzir que por John ser uma cria de Miriam e por isso não um vampiro puro, seu tempo de vida eterna é limitado.
Em paralelo a isso temos Sarah (Susan Sarandon) uma cientista especializada na pesquisa para regredir o relógio biológico e o envelhecimento acelerado e que acaba tendo contato com o casal de vampiros, um breve encontro com John e um relacionamento mais complexo com Miriam.
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E durante o desenrolar do filme, podemos ver algumas metáforas para o vampirismo representado no filme, que lembram muito o relacionamento entre um dependente químico e seu traficante, no caso aqui, seria o relacionamento entre Sarah e Miriam, já que após ser “infectada” pela vampira, a médica começa a demonstrar sinais de abstinência, como suadouros, alucinações e tremedeira corporal. O que cria entre elas um relacionamento de interdependência, Miriam quer uma companhia e Sarah precisa da dose diária de sangue para aplacar a fome.
Inclusive, o titulo original do filme é apenas esta palavra. “A Fome” (ou The hunger) e eu acho que deviam ter mantido o titulo original, mas, como acontece com praticamente 99,99% dos filmes que vem pro Brasil, eles precisam mexer no título ou colocar um subtítulo ridículo.
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O filme tem uma atmosfera com contraste de luz e sombra, neon e cores vibrantes complementadas por maquiagem pesada e escura, além de trilha sonora instrumental que abusa dos sintetizadores, marca registrada dos longas-metragens produzidos durante os anos 80.
Apesar de ter o Bowie como chamariz para o público, a história do filme é focada na personagem de Catherine Deneuve, Miriam e da sua coleção morta-viva de amantes acumulados no sótão através dos séculos, também se pode dizer que é um filme sobre solidão, desejo de manter um relacionamento e ao mesmo tempo, descaso e egoísmo, já que Miriam não pensa no impacto negativo que a transmissão do vampirismo a mortais pode causar na vida destas pessoas.
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Enfim, é um filme interessante que apresenta uma interpretação diferente do mito do vampiro, quase sem sangue (com exceção talvez dos últimos 15 minutos do filme) e sem caninos super desenvolvidos a mostra. O filme trabalha com o mito da juventude eterna e do medo de envelhecer, da dependência pela promessa de ficar eternamente jovem e das consequências desesperadoras que vem como efeitos colaterais extremamente desagradáveis. Ele tem um final ao mesmo tempo belo e perturbador e que me fez sentir um pouco desconfortável.
Não é um filme para os fãs de cinema popcorn, pois apesar da sua curta duração, 1h36min, é um material que necessita de atenção e paciência. Minha opinião pessoal é que, se talvez o filme tivesse tido pelo menos mais meia hora de duração, talvez a história pudesse ter se desenvolvido de forma mais completa,
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Também vale alertar que no começo do filme há uma cena de ataque animal, um babuíno que surta e ataca outro babuíno dentro de uma jaula e a cena é bastante gráfica, então, se você não gosta de ver qualquer tipo de ataque ou violência animal, pule a cena ou não veja este filme.
E uma curiosidade, lá pelos 1h15min eu notei dois acordes na trilha sonora que lembraram muito a introdução da musica Copycat do Lacrimosa, e levando em consideração que a banda surgiu alguns anos após o lançamento do filme, estes acordes podem ter sido utilizados na música como uma forma de homenagem ao longa-metragem.
“…Para todo o sempre”
Esta review foi um pedido de Ares Saturno.

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