Loving Vincent

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Sempre fui grande fã das pinturas de Van Gogh, especialmente aquela série de quadros dos girassóis e noite estrelada. Os quadros dele sempre me transmitiram tanta emoção, sentimento, sensações. E conforme eu fui estudando sobre ele na escola, acabei descobrindo tristes informações sobre o pintor que fez aqueles quadros tão lindos e me entristeci por ele. E eu me lembro que quando vi o trailer deste filme, no finalzinho de 2016, senti grande interesse e fiquei esperando e procurando por um arquivo aceitável da produção.

Nesta review eu vou falar de uma animação que saiu em 2017, chamada “Loving Vicent” (Com amor Van Gogh, em português) e que é sem dúvida alguma, uma pequena obra-de-arte moderna, começando pela sua composição. Cada uma das cenas do filme foi pintada manualmente por um grupo de 100 pintores diferentes em cima das filmagens dos atores, em uma técnica chamada rotoscópio, o que para fãs da arte já é um verdadeiro deleite.
Mas, o verdadeiro ponto que se deve dar atenção em “Loving Vincent” é como a história é narrada e a forma crua e sincera com que a depressão é apresentada ao espectador.
O filme se passa alguns anos a morte de Van Gogh (atestada como suicídio) e vemos uma tentativa de um carteiro em entregar uma ultima carta enviada pelo pintor para o irmão, Theo, numa tentativa de fazer a coisa certa. Mas a história vai se desenrolando e mostrando que tal tarefa talvez seja impossível.
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Podemos ver durante o filme as opiniões contrastantes sobre Vincent, enquanto alguns o viam como incompreendido e até doente, precisando e tratamento e acompanhamento constante, outros o viam como um louco, um problema, um peso.
E também o peso que ele próprio colocou em seus ombros para agradar e ser amado pelos pais, já que não era o filho primogênito, mas sim, apenas o segundo que recebeu o mesmo nome de um natimorto, falhando miseravelmente em todas as suas tentativas. E é aqui que ficamos sabendo que ele só começou a pintar aos 28 anos.
Em paralelo a história de Van Gogh, acompanhamos a odisséia do filho do carteiro, tentando entregar a carta para alguém que conheceu o pintor e aos poucos, o rapaz, que detestava o homem e achava-o bêbado e louco, vai descobrindo os detalhes lúgubres do passado de Vincent e simpatizando com ele.
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Como eu já disse em outra review há alguns anos, sofro de depressão, então, me identifiquei muito com as representações da doença em Van Gogh, incluindo citações mencionando sua melhora e então, declínio alguns dias depois. Pois assim é a depressão, uma desconfortável montanha-russa de emoções e humores.
Mas vale deixar claro que a animação não glamouriza o suicídio ou a depressão, na verdade neste ponto o filme é totalmente isento de julgamentos, nos deixando apenas com as opiniões dos personagens sobre essas duas complexidades humanas e fica ao nosso critério, o lado que escolheremos, se é o dos que se compadeceram com a morte de Vincent e vira o desespero e a doença dominar um homem brilhante ou dos que a celebraram, comemorando a morte de um bêbado louco, como eles o viam.
E é interessante, se pararmos para pensar que no começo do século XX, não se  tinha sequer ideia do que era a depressão, chamavam-na de melancolia, tristeza, abatimento, mas ninguém conseguia compreender o que era e muito menos que ela era capaz de levar uma pessoa a dar fim a própria vida.
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Sob o ponto de vista da produção do filme, ele é esteticamente lindo, todas as pinturas utilizadas para formar o longa-metragem remetem a paleta de cores e inclusive as pinceladas utilizadas por Van Gogh em seus quadros, com um destaque para as cenas de memórias, que são representadas em tons de cinza.
Alem desta abordagem sobre temas complexos como depressão e suicídio, o filme questiona se a morte de Van Gogh foi realmente um ato desesperado de um homem tomado pela depressão e o desespero ou foi um assassinato culposo, um disparo impensado do revolver ou talvez até algo mais sério.
E também nos faz questionar porque as pessoas só passam a ter importância após morrerem, afinal, quando vivo, Van Gogh conseguiu vender apenas um quadro, mas após a sua morte, todas as suas pinturas monetizaram absurdamente, inclusive existe hoje um museu “Vincent Van Gogh” com exposição permanente e daí nos perguntamos porque a sociedade cultua os mortos e ignora os vivos.
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Agora, caso você tenha lido até aqui e se interessado pelo enredo, aqui vai um alerta, apesar de o filme ter uma duração curta, 1h30, ele é bastante lento, desvendando os mistérios por trás da morte de Van Gogh muito lentamente e nos apresentando as informações de forma bastante regrada. Então, se você curte um blockbuster que te entrega tudo nos primeiros dez minutos do filme, este aqui, não é para você.
E a música de encerramento do filme, “Vincent” de Don McLean me fez derramar uma lágrima solitária, porque é uma linda música e cheia de significados pessoais para mim.
Enfim, é um filme bastante comovente, bonito e bem desenvolvido. Com um roteiro muito bem amarrado e cativante e uma mensagem final positiva, apesar do tema tenso abordado, e me deixou com aquele calor gostoso no peito, tão diferente do que eu senti ao assistir 13 reasons why, terminando de ver Loving Vincent eu não me senti mal, mas senti acolhimento e a promessa de que apesar das coisas horríveis, ainda há esperança, se você quiser lutar por ela.
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“…Mas eu vou te dizer, Vincent, este mundo não foi feito para alguém tão maravilhoso como você” 
– Trecho da música “Vincent” de Don McLean.

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