Rainha de Katwe
Eu tenho uma mania desde criança que até hoje não consegui me desfazer. Tudo o que eu escolho é pela capa/cartaz, era assim quando eu tinha cinco anos de idade e ia na banca de revistas comprar gibizinhos e continua sendo hoje, com 30 anos quando estou procurando alguma coisa para ler, assistir e até para ouvir. E foi assim que eu decidi ver Queen of Katwe, (Rainha de Katwe) uma produção Disney que infelizmente, voou abaixo do radar, mas que vale muito a pena ser vista.
Kampala, Uganda, o ano é 2011. Uma garota pergunta a um homem se ela está pronta e ele confirma. As portas se abrem e somos apresentados a um grande torneio de enxadristas, do qual a menina vai participar. Voltamos então quatro anos no tempo, para saber como tudo começou.
Phiona Mutesi (Madina Nalwanga) é a mais velha de quatro irmãos, a mãe, Naku Harriet (Lupita Nyong’o) é viúva e precisa que a filha e um dos filhos, os mais velhos, saiam para vender milho com o intuito de conseguir dinheiro suficiente para se alimentarem. Um dia Phiona resolve seguir seu irmão que some todos os dias assim que termina de vender a bacia de milho e lá ela descobre que ele e mais algumas crianças estão aprendendo a jogar xadrez.
Ela entra, o responsável pelo espaço oferece a ela um pouco de mingau e pede para uma das crianças ensiná-la a jogar xadrez, mas, como todos sabemos, crianças são cruéis e elas maltratam Phiona e dizem que ela cheira mal (isso é uma ofensa direta ao local em que a menina mora, a parte mais pobre da cidade, que num geral já é bem miserável).
A menina faz um esforço, já que água é algo que deve ser usado apenas para cozinhar e beber e toma um banho rápido no espaço onde as mulheres lavam as roupas e então, ela retorna ao espaço onde ensinam xadrez, um galpão patrocinado pela igreja local.
Agora é 2008 e Phiona está melhorando cada vez mais suas habilidades como enxadrista, derrotando até mesmo seu irmão, que se vangloriava de ser o melhor de toda a turma e o treinador vendo o potencial da garota, vai atrás de inscrevê-la, junto de algumas das outras crianças, em um torneio de xadrez, mas, encontra preconceito por eles serem “crianças de favela”. Mas o treinador consegue passar por uma brecha na fala do presidente da associação de xadrez e começa sua jornada para juntar o dinheiro da taxa para que as crianças possam participar do torneio. Ele começa a jogar futebol pago, onde recebe 5.000 shillings (moeda local) por partida.
Infelizmente, algumas pessoas invejosas falam mentiras pra mãe de Phiona e ela vai até o barracão buscar os filhos, sob a suspeita falsa de que ali se pratica jogos de azar. Mas o treinador vai atrás e após conversar com a mãe dos garotos, mostra a ela que xadrez não só não é um jogo de azar, como ensina disciplina e aguça o pensamento.
As crianças participam do torneio e Phiona ganha a medalha de melhor enxadrista, o que faz com que o treinador cumpra a promessa que fez a mãe da garota, que ela iria estudar e aprender a ler e escrever. Ele leva a menina para conhecer sua esposa, que é treinadora e irá ensiná-la em casa.
E então as coisas ruins começam a acontecer, o irmão de Phiona, Brian, é atropelado por uma moto, já que não existem pistas e os veículos transitam junto aos pedestres e em alta velocidade. Quando a garota e a mãe conseguem levar o garoto para o hospital, tendo de pagar para que um motoqueiro os leve, mesmo com o menino extremamente ferido, outra bomba, como irão pagar pelo tratamento? A mãe dá um jeito de Phiona e o irmão saírem fugidos do hospital, mas ao chegarem em casa, descobrem que o local, que é uma espécie de barraco construído de entulho, esta fechado com cadeado pois a senhoria quer o pagamento do aluguel e que não é pouca coisa, 10.000 shillings.
Com o filho machucado, a filha e um bebê, a mãe acaba tendo de dormir na rua, pois sua única outra opção é se prostituir coisa à qual ela se nega ferrenhamente a fazer. Mas apesar de todas as coisas ruins que aconteceram Phiona não desiste de jogar xadrez e em 2009 ela já é conhecida nos circuitos profissionais.
É bonito ver o esforço da mãe de Phiona para ajudar a filha a se aprimorar no xadrez. No inicio ela não queria que a menina jogasse, mas quando o treinador diz que aprender xadrez poderia dar uma vida melhor para a garota, a mãe não mede esforços, chegando até a vender um traje étnico que fora presente de sua própria mãe, para comprar parafina para que a garota possa continuar lendo os livros de técnicas e jogada durante a noite. A mãe de Phiona é uma personagem coadjuvante, mas que cativa e dá orgulho ao espectador, por toda sua garra e luta para criar os filhos, sozinha.
Segundo é informado logo no começo do filme, o longa-metragem é baseado em uma história real e em vários momentos podemos ver o contraste social gritante entre o local em que Phiona mora com a família e o que o treinador de xadrez vive.
Também fica claro que apenas crianças cujos pais têm condição financeira de pagar estudam na escola. Isso fica claro numa cena logo no começo quando um bando de crianças para correndo pela jovem que está indo vender milho e podemos ver a tristeza e o desejo dela de fazer parte daquele grupo.
Alem de sermos apresentados a informação de que no continente africano, mais importante do que aonde você se formou ou quantos cursos você fez, é de que família você veio e pessoas órfãs ou cujos pais são pobres, não tem a menor chance de fazer carreira por lá.
O filme é uma critica social crua sobre a situação da maior parte da população que vive em Uganda e tantos outros países da África, o descaso com a saúde, a falta de medicamentos básicos como anestesia e ainda assim as altas taxas cobradas pelos serviços médicos, além do preconceito contra a população pobre e a privação de estudo e conhecimento para esta mesma população. Além do descrédito da mulher solteira ou viúva, pois em uma sociedade machista como é a africana, as mulheres só são reconhecidas como cidadãs se tiverem um marido.
Enfim, é um filme extremamente tocante e bonito, uma verdadeira lição de superação e força de vontade, e que nos faz torcer pela personagem durante todo o tempo. além de contar com um elenco predominantemente composto por pessoas negras e que fala da região e da história do povo africano, cobrindo culturas e comportamentos do continente. Recomendo muito para quem gosta de ver que a vida real às vezes imita a ficção e por isso pessoas conseguem conquistar seus sonhos.
Você pode baixar [via torrent] AQUI






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