Invocação do mal
Antes de começar essa review quero adiantar aqui que eu não
acredito em fantasmas, espíritos, demônios, possessões demoníacas ou
manifestações do além. Dito isso, vou tentar deixar meu ceticismo de lado
durante esta review e fazer uma abordagem o mais imparcial possível. E preciso
adiantar aqui que durante todo o texto vou apontar os principais clichês
básicos desse tipo de filme de terror, então, estejam avisados.
Eu
me lembro quando o filme saiu nos cinemas, em 2013, foi o maior furor, todo
mundo só falava disso, mas eu, como não acho a menor graça em filmes de fantasma as e Cia, suspirei e ignorei. Até
agora. O que me fez querer assistir foi a seca de filmes de terror pela qual
estou passando atualmente, estou num desespero tão grande de assistir algo que me
cause o menor medo, que não faço distinção de conteúdo e pego a primeira coisa
que aparece na minha frente.
O
filme começa com a entrevista das donas da boneca Annabelle (boneca feia do
caramba! Tenho de dizer aqui) criando um gancho com o filme anterior (porque
não sei se você sabe, mas existe o universo “invocação do mal”, onde vários
filmes da franquia se conectam) e então somos apresentados aos Warren, Ed e
Lorraine, autodenominados demonologistas.
E então o filme muda o foco e apresenta a história batida a exaustão da família padrão americana que se muda para uma casa sem saber que a tal é habitada por espíritos. Eu poderia listar todos os filmes num raio de 20 anos que usaram esse roteiro-base, mas, vou poupar vocês dos dados técnicos.
A família tem cinco meninas, o que, em pelo menos 09 de 10 filmes sobre possessão e casas assombradas, é um fator chave, já que segundo pesquisadores do sobrenatural, a puberdade feminina atrai essas criaturas. E enquanto elas brincam de “cabra cega” acabam descobrindo uma repartição oculta na casa, fechada com tábuas (e aqui outro clássico clichê, o cômodo secreto/oculto/demoníaco).
Em seguida vem o “frio desconhecido”, em pleno verão, a casa está muito fria, esse tipo de “sintoma” também aparece em Horror em Amytiville (que os Luds – moradores da casa da Ocean Drive em Amytiville - também alegam terem passado por algo parecido), o precursor do estilo de terror “casas possuídas”.
Os relógios da casa pararam as 3h07, segundo a crença sobrenatural, 3 horas da manhã é o horário dos espíritos, também conhecido como “hora das bruxas” ou ainda “hora do boi”. Todo tipo de manifestação sobrenatural é mais forte das 03h00 as 03h59 da manhã.
Então temos o clássico caso do cachorro misteriosamente morto. E isso é de praxe, em todo filme de terror, se a família tem um animal de estimação, seja cachorro, gato ou papagaio, o bicho vai morrer em algum momento do filme. Às vezes pelas mãos do “mal” ou às vezes pelas mãos dos donos possuídos pelo “mal” (vide O Babadook).
Começam a aparecer marcas roxas no corpo da mãe das crianças (algo semelhante ao que se passa em O enigma do mal), há crises de sonambulismo e odores fétidos. E em seguida, um “amigo invisível” para a menina caçula.
E então finalmente “a coisa” da casa se manifesta e os ataques se tornam mais diretos. Mas existe uma pequena incoerência, em certo momento acontece um barulho enorme pela casa, onde várias fotografias caem das paredes e se espatifam no chão. No entanto, apenas a mãe ouve o som. Quero dizer, se acontecesse esse tipo de coisa, a casa inteira não deveria acordar? O que me fez questionar da sanidade da mãe, no fim, tudo não passou de um episódio alucinógeno.
E como é de se esperar de filmes de terror americanos, a partir dos 40 minutos, ocorre um verdadeiro abuso de jump scares desnecessários. E então temos a infestação de “paranormais” na casa, tão comuns nesse tipo de filme. Há também aqueles pequenos momentos de alivio cômico, que, por ironia do destino não foram usados a exaustão.
Além de que a interação romântica dos Warren me incomodou muito, eu achei a cena totalmente fora de contexto, é quase como uma versão censura livre de cenas de sexo em filmes de terror, você sabe, não é? Igualmente desnecessárias.
Queria dizer alguns pontos positivos do filme, mas, não tem nenhum. Quando pensei que ia gostar da trilha sonora, ela se limitou a uma única música e o figurino, anos 70 não foi tão representativo quanto eu gostaria, já que vemos as meninas mais de pijama do que usando roupas de sair. Para mim o enredo foi enfadonho e cansativo, bocejei várias vezes durante as quase 2 horas de filme – e eram mais de meio-dia!
Na minha opinião, o filme poderia ter sido bem enxugado e diminuído em pelo menos 30 minutos ou mais, existem várias cenas enche-linguiça só pra esticar a duração e obrigar o espectador a esperar pelo desfecho previsível.
E mais uma observação, agora sobre a tal boneca-feia-do-cão Annabelle. Se ela estava presa na caixa de vidro no quarto secreto dos Warren, só porque a filha deles foi lá e abriu a porta, a boneca magicamente desapareceu e se espalhou pela casa? Sério, tem certos detalhes em filmes de terror sobre espíritos que me dão nos nervos. E digo mais, se tinha tanta coisa “perigosa” ali dentro, porque o tal quarto não ficava trancado?
Vale citar que a boneca original (que não é aquela coisa horrorosa, ela é uma Rag Ann Doll) permanece até hoje no tal armário/cristaleira onde foi colocada nos anos 70. Mas né, é Hollywood e eles precisavam de mais um filme caça-níqueis pra franquia.
Agora, eu não quero estragar a ideia que você tem de “veracidade” do filme (mas eu quero sim), então, recomendo que você assista a este vídeo, onde ficamos a par da verdadeira história por trás de “invocação do mal”, que, sinto dizer, não é nem 10% da apresentada por Hollywood.
Foi uma experiência enfadonha e monótona assistir a “invocação do mal”. O filme é apenas mais um exemplar do já tão batido e extremamente abusado subgênero de “Casa assombrada/Possessão” e que em minha opinião, tem representantes bem melhores do que este.
Enfim, para alguém como eu, que já viu um monte de filmes sobre possessão e casas assombradas, “Invocação do mal” é um grande mais do mesmo, sem nenhuma novidade ou informação diferenciada, se você é como eu, recomendo que procure filmes de terror não estadunidense, que você vai aproveitar muito mais. Mas, se você se assusta com esse tipo de filme e está busca de alguns bons arrepios, recomendo muito.
Vou deixar aqui no fim da review o nome de alguns outros filmes que abordam o mesmíssimo assunto e com praticamente os mesmos artifícios narrativos, confiram e tirem suas próprias conclusões.
Casas assombradas:
- Horror em Amityville [1979]: a história de casa assombrada mais antiga, os Luds se mudaram para a casa colonial no bairro de Amityville e então as manifestações começaram. Eles permaneceram na casa por 28 dias.
- Poltergeist, o fenômeno [1982]: A jovem Carol Ann se comunica com algo através da estática da tevê. Com o desenrolar do filme descobrimos que as casas do loteamento foram construídas sobre um local que deveria ter sido deixado em paz.
- A casa das almas perdidas: Família se muda para casa nova e coisas estranhas começam a acontecer, incluindo molestamento de ambos os pais e até das filhas. A família só tinha garotas.
- O enigma do mal: Uma moça alega ser constantemente estuprada por espíritos e busca ajuda de paranormais, que descobrem forças sobrenaturais habitando em sua casa.
Possessão:
- The Exorcist (série de tevê, veja apenas a temp.1) [2016]: continuação direta do filme de 1970, The Exorcist apresenta uma representação clara e visceral da possessão, nos dando o direito de ver a entidade como uma criatura a parte que interage e conversa com a garota possuída.
- O Exorcismo de Emily Rose: Caso real de uma jovem, cujo nome verdadeiro não era Emily Rose. Há divisão de opiniões se a menina estava possuída ou sofria de esquizofrenia.
- Réquiem [em inglês] (filme alemão sobre o exorcismo da Emily Rose): Uma outra versão da história, menos fantasiosa e hollywoodiana e mais realista e pé no chão.
E claro, se você quiser baixar Invocação do mal, tem aqui








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