Atômica
Desde que eu comecei essas reviews, há uns dois anos, muitos amigos tem me pedido para eu analisar filmes que eles gostam. Eles querem saber a minha opinião e isso me dá aquele misto clássico de alegria e medo. Alegria porque eles gostam da minha escrita e analise e medo porque nem sempre vou concordar ou gostar do filme que muitas vezes eles adoram. Esta é uma destas reviews.
Atômica começa com um trecho de uma gravação real do então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush (pai) pedindo que Berlim derrube o muro que divide a Alemanha em duas. Mas após esse trecho, aparece uma legenda informando quem em 1989 houve a que da do muro de Berlim, mas que o filme não é sobre esta história.
O enredo apresentado foca na recuperação de uma lista com nomes que podem encurtar a duração da então guerra fria em 40 anos. A enviada para recuperar a lista é uma agente chamada Lorraine, interpretada pela Charlize Theron. A missão dela é ir até a Alemanha Oriental (lembre-se que o país está dividido pelo muro ainda) e encontrar, Percival, um contrabandista de informações (interpretado por James McAvoy).
Para quem não sabe, a Guerra Fria foi um período de disputa bélica indireta entre Estados Unidos e Rússia, em que ambos forneciam armas para outras guerras, incluindo a divisão da Alemanha pelo muro de Berlim. Por isso, apesar da história se passar em Berlim, os “caras maus” por assim dizer, são os Russos, que não querem que a tal lista venha à tona, pois pretendem manter a Guerra Fria por mais tempo, (mas esta parte é ficção).
Mas o filme em si começa com a perseguição e morte de um possível informante e o interrogatório de Lorraine, durante o qual ela narra à história apresentada no filme. a história vai se desenvolvendo lentamente dentro das quase 2 horas de duração do filme.
Conforme eu fui assistindo pude notar algumas sutis semelhanças entre Atômica e Femme Fatale, dirigido há alguns bons anos pelo Brian De Palma. Mas que fique claro aqui que não estou acusando o filme de ser um plágio, não. É só que tanto Lorraine quanto a protagonista do filme de De Palma são mulheres fortes, decididas, astutas e perigosas. Inclusive a cena de interação lésbica, ocorre em ambos os filmes.
Charlize interpretou de forma magistral uma agente especial durona e estrategista. E aqui podemos ver a versatilidade da artista que foi de Arleene em Monster, para Furiosa em Mad Max até esta personagem complexa que é a “Loira Atômica” (titulo original tanto do filme quanto dos quadrinhos do qual a história foi adaptada).
Apesar de um tanto quanto surreais, as cenas de luta são bem coreografadas e visualmente bonitas. O filme tem cenas de violência bem explicitas, casadas de forma bizarra com musicas popular dos anos 80, como por exemplo, 99 red balloons, da cantora Nena (que é alemã).
E falando em trilha sonora, a de Atômica é deliciosa, misturando hits americanos famosos da época, com versões cantadas em alemão e algumas coisas mais clássicas como a música tema de Casablanca. Um verdadeiro banquete sonoro para os fãs da “década perdida”.
Também preciso destacar o figurino coadjuvante da Alemanha Oriental, jovens punks com moicanos verdes e jaquetas de couro rasgadas e piercings nos narizes presos por pequenas correntes que iam até a orelha. Esses detalhes foram o que deram consistência de veracidade histórica ao filme, pois é explicita a diferença entre as duas Alemanhas (Oriental e Ocidental).
Sem falar em toda a política burocrática para se atravessar de um lado para o outro do muro. Tudo isso é apresentado minuciosamente no filme e foram esses detalhes históricos que deram riqueza a narrativa, tornando-a verossímil. E preciso confessar que tenho um grande fraco por filmes e séries que se passam nos anos 80, e quanto mais realistas forem às representações, incluindo figurino, cenário e trilha sonora, mais eu me apaixono.
Vale citar também o detalhe que informa as localizações dentro do filme. É como um estêncil de grafite em cores vibrantes com pequenos vestígios de tinta escorrendo, o que dá um ar meio revolucionário, quase anarquista as legendas que informam a mudanças das localidades. E claro, as cores utilizadas em alguns dos cenários, abusando do neon e das cores berrantes, nos fazendo mergulhar por completo na década representada.
O filme tem todos os elementos de um bom suspense de espiões com intriga internacional. Diálogos inteligentes, perseguição e lutas com coreografias incríveis e muito convincentes, além das clássicas perseguições gato-e-rato e uma protagonista esperta e auto-suficiente o bastante que não precisa se apoiar na aparência e muito menos em um personagem masculino para avançar em sua missão.
Sobre o personagem do McAvoy, okay, eu não gosto dele como ator, mas isso não influenciou minha opinião de que Percival é um personagem totalmente esquecível, apesar da importância do seu papel dentro do enredo.
Também gostaria de mencionar que podemos ver o ator Bill Skargard (Pennywise, IT) que aparece no filme como uma espécie de hacker/fabricante de passaportes falsos e tenho de confessar que, a cada filme que eu vejo esse ator, simpatizo cada vez mais com ele. Carismático e interpreta sempre muito bem os personagens. (A cena dos guarda-chuvas foi a coisa mais perfeita que eu já vi).
Bom, se você chegou até aqui nesta review e está com interesse de ver este filme, aqui vão alguns alertas. É um filme longo e arrastado. Apesar das cenas dinâmicas de luta e tiroteios, o enredo se desenrola bem lentamente e as informações cruciais são liberadas a conta-gotas, então, a menos que você tenha paciência, não recomendo que tente assistir ao filme. Também é um longa-metragem que exige o mínimo de conhecimento histórico para que você tenha uma absorção completa do roteiro.
Mas se você tem maturidade para lidar com filmes que apresentam esse tipo de narrativa, pode apostar que não vai se arrepender; ficamos em constante estado de apreensão enquanto acompanhamos Lorraine em sua luta para recuperar a lista de nomes.
Gostaria também de frisar que este é um daqueles filmes dessa nova safra que está dando as personagens femininas o lugar que elas merecem, de protagonistas poderosas, capazes de resolver problemas, mudar o mundo e lutar sem a necessidade da proteção de um homem.
Resumindo, se você está procurando por um filme com grandes plot twists, um enredo bem desenvolvido e personagens femininas fortes e auto-suficientes, recomendo muito Atômica e se tiver a chance, dê uma conferida na história em quadrinho que serviu de base para o filme. Tenho certeza de que não vai se arrepender.
“Fico feliz por ter sido convincente.”
Esta review foi um pedido da Isabella Franco.
Você pode baixar o filme [em torrent] AQUI
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