A Bruxa [2016] [uma segunda review]
Então, na época que o filme saiu, eu assisti [em casa] pra desmistificar toda aquela propaganda enganosa de "o filme mais assustador de 2016", até fiz uma review (https://bit.ly/2G9LqlT), mas, eis que esse final de semana eu peguei pra rever, já ciente de que "A bruxa" não é um filme de terror blockbuster com litros de sangue esguichando que nem irrigador de jardim.
O filme pode ser interpretado como um drama histórico com pinceladas sobrenaturais, afinal, a gente vê ali como viveu uma família de puritanos expulsos da vila pelo fato de que o patriarca se opunha a forma como os anciões tomavam conta da vila e das pessoas.
Não tem como não se compadecer pela jovem Tomasin, a garota mais velha e que é acusada de bruxaria pela própria família. A menina é uma espécie de burro de carga, ela faz todos os serviços da casa, toma conta dos irmãos gêmeos mal educados e do bebê que desaparece certo dia. - e é com o desaparecimento do bebê que a coisa toda começa a ir para o lado da histeria e loucura coletiva.
Como eu disse na minha review anterior, o filme também trabalha com a "sindrome da cabana" que é quando um grupo de pessoas fica isolado de civilização e contato com outros seres humanos por muito tempo.
Em certo momento Tomasin, irritada com a irmã caçula, um dos gêmeos, diz a ela que sim, ela é uma bruxa e que vai devorá-la se falar algo para a mãe - ali a gente vê como a menina tá num limite emocional muito grande, ela está sendo culpada pelo desaparecimento do bebê e também de uma taça de prata da mãe [que o pai pegou e vendeu escondido da esposa].
Some-se isso ao fato de que, já que ela "já é mulher" (teve sua primeira menstruação), a mãe acha que a menina deve ir "servir a alguma família", ou seja, a garota é um estorvo e precisa ser descartada.
Em certo momento em que o pai a interroga sobre ela ter feito um pacto com o demonio, a menina, mais uma vez, explode e o questiona sobre todas as mentiras, a taça roubada, a sugestão da mãe de "levá-la para outra família" e ali ficamos a par da mágoa e dor que ela está tendo de lidar.
Mais pro final do filme, tem uma cena em que fica claro o peso da ignorância da menina, no sentido literal de não saber das coisas. O demônio realmente vem oferecer um pacto a ela, e diz que tudo o que ela tem de fazer é assinar. É quando ela diz "Eu não sei escrever meu nome" em uma menção direta ao fato de que naquela época as mulheres não eram ensinadas a ler ou escrever (afinal, não era "necessário").
O filme tem sim algumas cenas tensas e violentas, mas a coisa está tão salpicada e distribuída na duração, que não chega a causar tanto impacto quanto a campanha publicitária prometia.
É um filme incomodo do ponto de vista emocional/psicológico e vemos o peso que uma jovem camponesa daquela época sofria, somado as falsas acusações de bruxaria. - Mas existe realmente uma bruxa, um covil delas na verdade, no entanto, as personagens se tornam coadjuvantes do enredo.
Não é um filme fácil de assistir, não pelo gore e tripas-e-sangue-companhia, mas sim por ver uma personagem humana e inocente sofrer e ser torturada por coisas que, até o ultimo minuto ela diz não ter cometido.
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