Seul contre tous [1998]


[Aviso: esse texto contem spoilers]

"Sozinho contra todos" é um prato extremamente indigesto para qualquer pessoa que tenha um mínimo de comportamento moral [e não, eu não estou falando dessa moral fanática religiosa]. 

Os primeiros cinco minutos do filme, que contam a história de vida do açougueiro [o personagem protagonista] são feitos com imagens estáticas e narração em off e quando somos apresentados a atual situação do personagem, já estamos a par de que ele era filho de mãe solteira, foi abusado por um padre na escola, engravidou uma moça que mal conhecia, e que teve uma filha a qual abandonou com ele, que ele tinha um açougue e perdeu tudo quando, por conta de um mal entendido, achou que um operário de obra havia abusado de sua filha. 

Eu já consumi muitos filmes doentios, mas este aqui entrou no top 3! E não foi por nenhuma cena de gore cheia de sangue e tripas (apesar de no final ter uma cena pesada de tiro). 

Mas, na verdade, tirando essa cena que eu citei, a longa cena de filme pornô hétero que o protagonista assiste, e o ataque violento que ele faz contra a parceira grávida em certo momento, o filme fica mais no perturbador subjetivo. 

E é esse subjetivo que perturba, as palavras do protagonista causam repulsa e nojo em qualquer pessoa que saiba o que é moralmente errado. 

Ao contrário de outros filmes com personagens sociopatas [Coringa, por exemplo], em "Seul contre tous" não conseguimos em momento algum criar o mínimo de empatia com o açougueiro [os personagens, com exceção da filha dele, Cynthia, não tem nome no filme], o personagem é asqueroso, violento, misógino, cruel e vingativo.

Assim como aconteceu em "Climax", filme mais recente do diretor Gaspar Noé, ocorre um aborto a socos no filme [que juntamente do tema estupro, parece ser um dos assuntos favoritos do diretor] e assim como aconteceu em "Climax", a cena em questão me incomodou muito. 

Mas, acredito que ela nem foi a pior de todas. 

Faltando menos de 20 minutos para o filme acabar, aparece um alerta, informando para que você saia da sala de exibição nos próximos 30 segundos, para evitar o desconforto. Eu [e acredito que as pessoas que viram o filme nos festivais de cinema] ignorei o alerta e agora estou aqui com o estômago embrulhado em uma reação de pura repulsa. E não é nem pela cena do tiro, é pela sugestão da outra cena e das falas finais do personagem.

Doentio até o fim, "Seul contre tous" não é um filme para pessoas que tem estômago fraco [e nem pouca paciência, já que ele se arrasta em um ritmo lento e modorrento por 1h45 minutos].

Foi uma experiência impactante, daquelas que a gente embarca uma vez só e não quer repetir nunca mais na vida. 

Agora ainda me faltam 3 filmes desse diretor para ver, e eu tenho empurrado o mais problemático dele, "Irreversível" para o fim da lista todas as vezes.

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