Coringa [2019]

Ontem eu revi o filme "Coringa", desta vez com o áudio original [porque quando fomos no cinema assistir, as únicas sessões que ainda tinham vagas eram as dubladas] e rever esse filme me fez sentir pela segunda vez aquele soco no estômago, aquele bem no meio da barriga que causa dor e sufoco.

Vamos remover toda a coisa de Gotham, Batman e etc do filme e analisar como ele realmente é, uma grande crítica ao descaso com a saúde mental do ser humano.

Eu vi um monte de gente dizendo que não "deveríamos simpatizar com o personagem", mas é algo meio impossível, ainda mais na atual situação mundial.

Nós vemos ele ser fodido de todas formas socialmente possíveis [exceto a sexual], pisam nele, surram ele, o humilham,destratam, incriminam, torturam, desfazem, ridicularizam e o homem continua ali, aguentando tudo em silêncio.

Para mim, "Coringa" é apenas uma releitura de "Um dia de fúria" [yep, aquele filme do Michael Douglas], mas com uma abordagem crítica ao descaso do sistema de saúde para com as pessoas que tem problemas mentais.

Algumas frases que me fizeram concordar com o comportamento do personagem são:

"Você me vê, mas não me ouve. Você nem sabe que eu existo"

"O que acontece com um doente mental quando a sociedade espera que ele seja funcional?"

"Espero que minha morte gere mais centavos do que a minha vida"

e a melhor de todas, "Vocês estão incomodados com a morte eles? Eu poderia morrer aqui e vocês passariam por cima de mim, como já fazem todos os dias"

A crítica ao descaso com pessoa que tem traumas ou problemas mentais é enorme, e fica claro quando o Arthur para de tomar os medicamentos e começa a alucinar 24 horas por dia.

Uma das minhas cenas favorita [e que agora eu descobri, foi totalmente improvisada pelo Joaquim] é aquela em que o Arthur entra num banheiro público, logo após matar os três escrotos [e possíveis estupradores] do trem e começa a praticar tai-chi chuan para se acalmar.

Aquela cena é de uma leveza e comoção gigantescas, é como se, apesar de toda a violência e adrenalina com a qual ele teve de lidar nos últimos minutos, ainda há alguma coisa dentro dele lhe dizendo para se acalmar.

Phoenix está maravilhoso no papel, inclusive os trejeitos, movimentos de braços e a forma como ele eleva os joelhos em uma corrida cômica quando foge, como... Como um bom palhaço!

Eu gosto do personagem Coringa, eu gosto da loucura dele, eu gosto das várias origens e histórias bizarras que o tornaram o que ele é [e não, eu não shippo ele com a Harlquinna, pq ela é da Hera], mas eu gosto de todas versões [Exceto a do Leto].

Mas esse filme aqui foi diferente, ele é uma mensagem muito particular e direta para todas as pessoas e isso inclui a trilha sonora, com musicas estrategicamente selecionadas para mandar as mensagens do personagem + o nome do clube onde o Arthur se apresenta, "Pogo" que era o nome artístico do palhaço assassino Gacy.

Você pode discordar de mim a vontade, mas tenho certeza de que todo mundo uma vez na vida, já sentiu vontade de ser meio Coringa.