Jogo Perigoso

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Bom, estou devendo essa review de “Jogo Perigoso” desde 2017, quando o filme foi lançado. Infelizmente aconteceram várias coisas que me impossibilitaram de escrever a review ano passado, apesar de eu ter feito um rascunho dela enquanto assistia ao filme, mas finalmente eu consegui redigi-la e publicá-la hoje. 


Jogo Perigoso é um dos livros mais controversos e menos favoritos entre muitos fãs de Stephen King, então, quando fiquei sabendo que ele seria adaptado em filme, não vou mentir, torci o nariz, mas, o resultado final me mostrou que as vezes a adaptação em filme pode sim superar o livro.


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O filme conta a história do casal Jessie e Gerald, casados há um bom tempo e que vão até uma casa no lago, isolada da civilização para praticar joguinhos sexuais, com o intuito de apimentar a relação. Gerald tem esse fetiche de algemar a esposa na cama enquanto fazem sexo e o que começou com lenços de seda, agora evoluiu para algemas genuínas da polícia, ou seja, impossíveis de se fugir.
Após algemar Jessie a cabeceira da cama, Gerald tem um enfarto e morre, deixando a esposa presa à cama, totalmente sozinha e impossibilitada de pedir ajuda. Este é o enredo-base do filme. E a partir daqui acompanhamos o desespero da mulher em tentar se libertar, ao mesmo tempo em que é assombrada por alucinações visuais de si mesma e do recém-falecido marido.
O filme é bastante claustrofóbico e torturante, pois além da situação presente com que Jessie tem de lidar, ela também é assombrada por lembranças de um abuso que sofreu quando ainda era criança, por parte do pai. E é essa intercalação das duas narrativas que torna o filme fluído e ativo, não nos deixando cair no marasmo frustrante de acompanhar a personagem em um único cenário tentando resolver uma só situação.
Pode-se dizer que os roteiristas tiveram sucesso em preencher os buracos deixados no livro, colocando mais carne nos ossos da narrativa e tornando-a ainda mais atraente e cativante para o espectador, ao mesmo tempo que é agonizante e claustrofóbico, nos fazendo ansiar e torcer pelo sucesso na fuga de Jessie a cada nova tentativa.


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Jessie é a representação perfeita da vitima de abuso; vulnerável e dependente de alguém que lhe prometeu proteção, segurança e estabilidade, em troca de total submissão não apenas sexual, mas também social. Mas quando enfim ela se dá conta de que tudo o que fez foi trocar uma gaiola dourada por outra, começa a ver as coisas de um novo ângulo, se colocando numa posição mais auto-suficiente e capaz. Mas isso não é uma constatação feita nos primeiros cinco minutos de carcere privado em que ela se encontra, na verdade, toda essa nova perspectiva de si mesma vai se desenvolvendo aos poucos, com o desenrolar do filme.
A personagem é bem construída e vai nos apresentando suas suposições e conclusões aos poucos, conforme o instinto de sobrevivência se sobrepõe ao sentimento de conformação com o qual viveu até aquele momento.
Somado a tudo isso, surge em dado momento do filme uma criatura, que Jessie acredita ser fruto da sua mente cansada e torturada, e o qual ela chama de “Homem do luar”. Ele fica no canto do quarto a observando e é o toque sobrenatural/assustador do filme. inicialmente a figura pode ser interpretada como uma representação visual do EPT (Estresse pós traumático) de Jessie, pois naquele momento, ela não está bem certa se a criatura é real ou apenas uma manifestação de sua mente cansada de em estado de alerta e estresse.
Agora preciso adiantar aqui que se você não leu “Jogo Perigoso” e tem problema com cenas gore ou de violência explícita, talvez esse filme não seja para você. Não, ele não é um desfile de obscenidades grotescas, mas tem pelo menos duas cenas chave que vão embrulhar o seu estômago, assim como embrulharam o meu.


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Também vale citar que o filme é repleto de simbolismos e sutilezas que não foram aprofundados no livro, além de uma referencia direta a outro livro do King, Eclipse Total, já que o tal abuso citado mais acima ocorre durante esse fenômeno específico. Isso é algo bastante comum nos livros do King, a referência a outros títulos ou até a outros personagens em novas narrativas. Há também uma citação ao livro “Cujo”, quando Gerald se refere a um cachorro que rondava a casa do lago pelo nome do personagem-título.
Ao contrário do livro, que faz a personagem se limitar a escrever uma carta para uma antiga amiga da faculdade contando todo o ocorrido traumático na casa do lago, o filme se aprofunda e dá um propósito de vida a Jessie, fazendo com que ela lide com seu trauma e desenvolva algo positivo em cima dele, além de, na cena final, repleta de significados emblemáticos, ela confronta o “homem do luar”, e ao fazê-lo ela se vê também confrontando o marido Gerald e seu abusador do passado, todos homens que lhe causaram algum tipo de dano emocional no passado.
E quando após essa confrontação a personagem enfim sai para a rua, se olharmos para o sol representado na cena, podemos ver vestígios do eclipse total indo embora até desaparecer, em uma metáfora de que pela primeira vez desde o abuso quando ainda era criança, o sol voltou a brilhar na vida de Jessie e que ela esta finalmente livre daquele fardo.


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Vale frisar que alguns detalhes do livro foram suavizados no filme, um dos mais gritantes é a cena em que Gerald tem um infarto, por conta dos comprimidos de estimulante sexual que tomou minutos antes, quando no livro, na verdade, É Jessie a responsável pela morte do marido, enquanto tenta desesperadamente se livrar das algemas, chuta a virilha dele, acertando um ponto vital e levando-o a óbito.
Enfim, este é um dos raros casos em que o filme foi melhor desenvolvido do que o livro, e antes que os fãs do King venham me xingar, eu li o livro, achei bem escrito e trabalhado, mas como eu disse mais acima, faltou preencher algumas lacunas básicas de enredo, para dar maior coerência a narrativa e a leitura, o que, na minha opinião, o filme conseguiu fazer de forma mais satisfatória. 
Você pode baixar o filme [via torrent] AQUI 

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