31 dias de Halloween - dia 27 - A metade negra
A escolha de hoje foi meio complicada, após tentar iniciar a review de dois filmes diferentes, não me senti confortável para continuar e acabei pulando para um terceiro. Este aqui. Por ser minha primeira edição do desafio e também por ser grande fã de Stephen King, é claro que muitas adaptações deles vão figurar na lista. A Metade Negra é uma delas. Eu me lembro que a primeira vez que vi uns cinco minutos desse filme eu devia ter o que? Uns seis ou sete anos e foi justamente a cena da cirurgia craniana e o que eles encontram lá dentro. Aquela imagem me assombrou por anos até eu descobrir que o filme era uma adaptação de um livro não relançado no Brasil. O que me deu ainda mais vontade de ir atrás.
Pra começo de conversa a direção é de ninguém menos que George A. Romero, sim, o cara famoso por “A volta dos mortos-vivos” e similares, então, já tenha uma ideia do que você vai encontrar no filme. Na verdade, Romero e King são amigos de longa data e fizeram muitas adaptações em filme juntos.
O ano é 1968 e o filme começa com uma enorme revoada de pardais pelo céu, enquanto. Então entra em cena um garoto escrevendo. Tudo vai bem, até que o canto de um pássaro se torna cada vez mais agudo e fica claro que o som vem de dentro da cabeça do menino, que se levanta desesperado da cadeira e joga-se na cama. a cena seguinte é de um exame no qual o médico acende e apaga uma lanterna na frente dos olhos do menino. O incidente resulta em uma maquina de escrever usada, pois a mãe acredita que tudo foi por causa do garoto, que se chama Ted Bullmounth, forçar a vista. Apesar de o médico frisar que cheiros ou sons costumam significar outra coisa. Enquanto Ted está saindo para pegar o ônibus da escola, nova crise, mais forte e violenta. E desta vez não tem conversa, ele vai para a mesa de cirurgia.
Ao abrirem a caixa craniana de Ted para a operação, os médicos encontram um olho cego, mas com pálpebra funcional, uma narina e dois dentes e um deles tem uma cárie. Aquilo é o que costumam chamar de gêmeo-parasita, que é quando numa gestação de gêmeos ainda no começo, o mais fraco é absorvido pelo mais forte e passa a coexistir dentro do mesmo corpo. E era esse gêmeo mal-formado que estava gerando as dores de cabeça em Ted.
Enquanto a cirurgia acontece, lá fora, os pardais estão enlouquecidos voando sem direção pelo céu em revoadas gigantes até começarem a atacar a vidraça do hospital. A cena fica escura. Passam-se 23 anos. Ted é agora um renomado escritor de romances policiais; casado com a simpática Liz e pai de um casal de gêmeos. Ele publica sob o pseudônimo de George Stark (sem conexões com GOT, rsrs) e também dá aulas em um curso universitário. Sem mais dores de cabeça.

Após uma de suas aulas, aparece um cara ameaçando contar para o mundo que Ted e George são a mesma pessoa, o mesmo autor. Ele chantageia Bullmounth, exige dinheiro em troca do seu silencio, ao que Ted o ameaça de forma velada “eu posso te fazer um dos meus personagens no futuro, e te farei sofrer muito”. Por fim, ele decide tornar sua identidade de autor publica e acabar com a chantagem antes que ela começasse. Ele até planeja um enterro simbólico de George Stark, com lápide e tudo!
Na lapide está escrito “George Stark – um cara não muito legal” e os anos de nascimento e morte são 1985-1991 (ou seja, ele viveu apenas seis anos). E assim que a foto do falso enterro é publicada que as coisas começam a ficar feias.
O fotografo quem fez as fotografias está dirigindo quando vê alguém pedir carona, ele acha que parece alguém que conhece, mas ao olhar para trás, a pessoa sumiu. Quando vai olhar pela janela do passageiro, o fotografo é arrancado com violência e jogado para fora e sua perna mecânica fica pendurada na janela. E enquanto isso, no cemitério, a terra do tumulo dos pais de Ted (e onde também foi enterrado os restos mortais do gêmeo) está revolvida. Algo cavou um buraco no chão.
Nesse meio tempo a policia aparece na porta da casa de Ted, acusando-o de assassinar o fotógrafo, que foi espancado até a morte com a própria prótese de perna. E enquanto a discussão para defender-se aumenta, Ted começa a ouvir o canto dos pardais, pela primeira vez em 26 anos. Ted então fala o nome do cara que tentou chantageá-lo, ameaçando revelar que George Stark era uma fraude.
Quando os policiais vão até o apartamento do cara, em Nova York, descobrem que ele está morto a dias. Foi amarrado em uma poltrona e esfolado até a morte. E na parede, escrito com o sangue do morto está a frase “os pardais estão revoando novamente”. Uma mensagem que ninguém além de Ted e George poderia compreender.
O filme todo é pontuado por aquela gigante revoada de pardais nervosos. E é possível estabelecer uma conexão entre o canto desses pássaros e a ligação mental que Ted e George têm. Pois, ao contar para sua esposa, Liz sobre a cirurgia que sofreu quando criança, Ted se refere ao que foi extraído de seu cérebro como um tumor, afinal, quem contaria a um garoto que ele tinha um gêmeo-parasita enfiado no cérebro?
E então Ted fala a Liz do medo que tem de estar tendo apagões e que talvez tenha sido ele mesmo o responsável pelos dois assassinatos. E até boa parte do filme, pelo menos da primeira vez que eu vi, confesso que acreditei que era ele. Mas a coisa é bem mais complexa do que isso. Acredite. Ao mesmo tempo em que alguém, que usa sapatos masculinos de bico fino continua cometendo assassinatos.
Durante todo o tempo não aparece o rosto do assassino, apenas a voz e os sapatos. Até que na terceira vitima, podemos ver quem é. Parece Ted, mas não é ele. E na quarta vítima fica claro o padrão. O assassino está indo atrás de todos que tiveram qualquer envolvimento na “morte” de George Stark. Tudo indica que Ted está enlouquecendo, tendo uma crise esquizofrênica.
O filme se arrasta por quase duas horas, jogando pistas no escuro para que o espectador pegue e tome o caminho errado, pois tenho de dizer que, só agora, quando vi o filme pela terceira vez, foi que me dei conta de todos os detalhes que compõe o personagem George Stark. Um filho da mãe sanguinário e sem coração, tão real quanto eu ou você. Lembre-se disso.
A Metade Negra é um filme difícil de resenhar sem cair em clichês prontos apontados pelo próprio filme, os quais nos últimos 20 minutos se desmentem todos. É uma fabula moderna fantástica sobre quando a criatura toma vida e confronta o criador ou nesse caso, resolve se vingar das pessoas responsáveis por sua “morte”.
Duas das melhores cenas são o dialogo telefônico entre Ted e George em tempo real, com a polícia ouvindo, o que descarta a possibilidade de tudo estar na cabeça do escritor e também quando o rosto de George começa a dar os primeiros sinais de que está se desfazendo. Eu não posso entrar em detalhes, para não dar spoiler, mas digamos apenas que George não consegue viver sem os livros produzidos por Ted, mas o contrário pode acontecer.
E por fim, nada supera a sequência final da invasão dos pardais. Aquela cena, mais do que qualquer outra, foi uma assinatura visual de Romero, tão conhecido por criar imagens grotescas e chocantes.
Algumas curiosidades sobre o filme:
O título foi mantido fiel ao original A metade negra/The dark half
O romance que deu origem a ele já foi publicado no Brasil nos anos 70. Mas não foi republicado até hoje, tornando-se item de colecionador.
O filme foi lançado em 1992. Ou seja, em 2016 completa 25 anos.
Existe um jogo de vídeo-game com base no filme, para uma plataforma que nem existe mais para PCs. É possível encontrar algumas fotos do jogo na internet.
Não é um filme com grandes sequências violentas, com exceção de uma nos últimos dez minutos de filme, mas ainda assim tem um enredo bastante complexo, pois é preciso se atentar a pequenos detalhes deixados no começo para se poder entender o final. Esse longa mistura assassinatos e investigação policial com alguns elementos fantásticos e sobrenaturais, como é possível observar numa das ultimas cenas em que George obriga Ted a escrever.
Recomendo para quem tem paciência e ao mesmo tempo estômago forte. É uma adaptação quase clássica de um livro igualmente incrível. Um dos meus filmes favoritos e também uma coisa que povoou meus pesadelos infantis por alguns anos. É tudo isso junto embrulhado pra presente!
“O que está acontecendo ai? / Assassinato, quer um pouco também?”

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