31 dias de Halloween - dia 26 - Seven, os sete crimes capitais
E mais uma vez trago a dança um filme sobre seriais killers. Talvez seja o meu assunto favorito em todo o mundo, motivo pelo qual este é o terceiro filme da temática a entrar nesta edição do desafio. E eu preciso ressaltar antes de começar a resenha que Seven teve grande impacto na minha vida cinéfila e me fez ter interesse em buscar outros filmes sobre o tema. Eu me lembro que demorei a conseguir assistir completo, até que um dia consegui comprei o DVD, que estava em promoção e meus problemas terminaram.
É um daqueles filmes que você pode rever um milhão de vezes e continua incrível e instigante, não apenas pelas cenas de assassinato montadas de forma teatral, mas também pelos opostos que os policiais interpretados por Brad Pitt e Morgan Freeman representam. Eu digo, dá pra sentir a tensão e a o contraste no modo de analisar os casos por cada um.
Mas vamos ao filme propriamente dito! Ele não começa direto nos assassinatos dos sete pecados capitais, na verdade dá um espaço para que possamos conhecer os protagonistas. O veterano Sommerset (Morgan Freeman) é um policial que está a uma semana de se aposentar, mas nem por isso deixa de ser detalhista e minucioso nas cenas de crime que analisa. Enquanto que Mills (Brad Pitt) é um recém-transferido para área de homicídios e lembra muito um cachorrinho novo querendo mostrar serviço. Ele é impaciente e impulsivo, o que desagrada e muito Sommerset.
Após os quase cinco minutos de introdução apresentando os personagens, o filme realmente começa e eu preciso frisar que a abertura é bastante perturbada. Conforme os nomes do elenco vão surgindo, um par de mãos com as pontas dos dedos feridos escreve em um caderno e cola fotos de pessoas com deformações físicas, entre outras imagens chocantes. É necessário destacar a minúcia com que os cadernos são escritos e decorados, como se fizessem parte de algum ritual ou obrigação. As mãos que aparecem, são as mãos do assassino.
É preciso frisar que o filme se passa em “tempo real”, ou seja, de Segunda-feira até Domingo todos os assassinatos já terão acontecido. O primeiro pecado a ganhar forma é o da GULA, um homem obeso foi obrigado a comer macarrão enlatado até seu estômago e intestinos estourarem. Esse primeiro assassinato foi descoberto na segunda-feira.
Na terça-feira um famoso advogado de defesa foi obrigado a se auto-golpear com um cutelo até a morte e antes de perder a consciência, ainda foi forçado a escrever com o próprio sangue a palavra “COBIÇA” em letras garrafais sobre o carpete do escritório. Ao mesmo tempo em que o chefe de Sommerset informa a ele que durante a autopsia do homem obeso, encontraram lascas de plástico misturadas a comida que havia no estomago. E o detetive, que estava tentando se distanciar do caso pelo fato de que em alguns dias estaria aposentado, não consegue resistir a curiosidade de tentar ligar os fatos que acabou de receber. De volta a casa onde aconteceu o primeiro crime, Sommerset procura por pistas e por fim descobre, atrás da geladeira, a palavra GULA, que foi escrita com gordura na parede, além de descobrir que as lascas de plástico, vieram do chão da casa da vitima. E agora o assassinato do homem obeso e do advogado de defesa tem um link de conexão. Ele também encontra um bilhete com uma passagem do livro “Paraíso perdido” de Milton, o qual Sommerset traduz na frase “Isso é apenas o começo”.
Uma das minhas cenas preferidas no filme é quando Sommerset vai a biblioteca pública fazer uma pesquisa de campo, apesar de ter dito que não se envolveria com o caso dos pecados capitais e os seguranças do local colocam uma peça de musica clássica para tocar. Não sei dizer qual é, mas a cena em si é muito bem montada, pois intercala a pesquisa e a leitura com a suavidade da musica.
O filme também traça a distinção entre o homem culto (Sommerset) e o homem inculto (Mills), o que faz uma grande diferença na hora de levar em frente às investigações do que se tornou um caso de assassinato em série.
Enquanto que o elemento feminino do filme fica por conta da esposa de Mills, Tracy, ela serve como elo entre Mills e Sommerset e também dá aquela leveza e suavidade que quebra um pouco o clima tenso que o resto do filme promove. A personagem, que é interpretada pela na época então pouco conhecida, Gwyneth Paltrow, é apresentada como alguém que está tentando se situar na cidade nova e que se sente deslocada e perdida, procurando um amigo que lhe dê apoio. Além de ter papel crucial no desfecho do enredo.
E com base em um detalhe deixado na cena do assassinato do advogado, os dois detetives são direcionados ao terceiro crime. PREGUIÇA. Atrás da tela de um quadro que havia no escritório do advogado, encontram-se digitais, que formam a frase “Ajude-me” e que batem com as de um homem fichado no banco de dados da policia. Mas, na verdade, o homem foi outra vitima do assassino em serie. Ele teve o braço amputado, o qual foi usado para plantar as digitais e foi amarrado na cama, sendo mantido com uma sobrevida por uma aplicação intravenosa.
O encontro desta vitima, ainda respirando, é uma das cenas mais perturbadoras do filme. se levarmos em consideração os comentários feitos pelos peritos. Não vou entrar em detalhes, para não estragar a diversão de vocês, mas, é uma cena é tanto, só perdendo para outro pecado. E na parede acima da cama, em letras garrafais, escrita com fezes está a palavra PREGUIÇA.
E num pulo temporal já é sexta-feira, e então após Sommerset pedir ajuda a um conhecido do FBI para rastrear quem esteve lendo livros relacionados a tortura e os sete pecados capitais, ele e Mills chegam a um nome Johnattan Doe (John Doe, que aqui seria algo como Zé ninguém). Acontece então uma sequência de fuga e perseguição na qual o suposto assassino atira contra eles e corre.
E quando enfim eles entram no apartamento, descobrem não apenas provas incriminadoras, mas também uma pequena prateleira de troféus, composta por armários com objetos utilizados para cometer cada um dos crimes. Ou seja, em um há latas de molho para macarrão, na outra, sangue e um livro de direito e por ai vai. É quando Sommerset vê no armário seguinte ao da PREGUIÇA, uma nota de compra de uma sex shop e a foto de uma jovem loira. São a deixa para o próximo assassinato e durante esse tour dentro do apartamento do assassino, é possível ver como ele é metódico, organizado e acumulativo.
Vou falar só de mais um pecado de forma mais detalhada, que é o da LUXÚRIA. Para este assassinato, o serial killer encomenda uma peça única a uma sex shop. Uma espécie de armadura com um objeto fálico cortante no local da genitália. Ele então obriga um cliente de uma prostituta a vestir o objeto e fazer sexo com a garota, a mesma loira da foto. Isso é claro, a dilacera por completo de baixo para cima, matando-a. e o pecado foi escrito com estilete na porta do quarto usado para cometer o crime. O desespero do homem é quase palpável e me fez pensar em filmes como Jogos Mortais, mas com um pouco mais de classe.
Eu considero este um dos crimes mais brutais, exatamente pelo fato de que ele obriga um homem inocente, que não tem qualquer interesse em participar dos assassinatos, a cometer um, sob a ameaça de ter os miolos estourados caso não o fizesse.
Os últimos dois crimes que irei citar são ORGULHO, que também pode ser citado como vaidade, no qual uma jovem tem o rosto retalhado e um telefone e um vidro de calmantes colados nas mãos. O assassino coloca uma foto da vitima na cabeceira da cama, escreve o nome do pecado com sangue e corta o nariz da moça.
Quero frisar que me foquei nos assassinatos, com exceção dos dois últimos, IRA e INVEJA, que resultam no desfecho do filme e omiti algumas informações que, quando você for assistir, terão grande peso na compreensão final do filme.
Seven é um desses filmes de serial killer incríveis pela lentidão calma com que leva as coisas da história e ao mesmo tempo, humaniza os personagens principais, nos fazendo familiarizar e gostar deles, além de colocar um ator negro em um papel de destaque e importância (coisa que eu só fui ver acontecer novamente em “O colecionador de ossos”). Além de pequenas citações e referencias ao cotidiano das cidades grandes, como por exemplo.
Tem essa frase que Sommerset diz ao Mills, se referindo à prevenção de ataques nas cidades grandes “a primeira regra que se ensina as mulheres que estão sendo vitimas de estupro é nunca gritar socorro, mas sim fogo. Pois as pessoas não costumam atender pedidos de socorro por aqui”. O filme tem quase vinte anos, mas a teoria ainda é consistente, pois a sociedade tem se tornado cada vez mais retrativa e distante, sempre com medo de que um pedido de ajuda na verdade seja uma técnica para atrair novas vitimas.
Algumas curiosidades:
O filme ganhou versão em HQ há alguns anos. A série foi publicada em sete volumes, cada um apresentando o desenrolar em cima de um dos crimes.
O diretor é o mesmo de “Clube da Luta” (mas, bem antes deste filme ter sido lançado).
Enfim, é um filme muito bem amarrado, um thriller policial instigante e com um final no mínimo único. Mas, assim como tantos outros filmes do desafio, não é recomendado para quem se choca com facilidade ou não se sente capaz de assistir um material sobre assassinatos em série a sangue frio. Sempre que eu revejo Seven, mergulho naquele mundo obscuro e complexo que é apresentado com o passar dos dias da semana. Ele mexe comigo, acima de tudo, pela consistência do assassino em série.
“É um engano chamá-lo de maluco. Não cometa esse erro”

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