31 dias de Halloween - dia 11 - Entrevista com o vampiro

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Os que me conhecem sabem do meu fascínio por vampiros, eu os adoro! Tanto que dois filmes do desafio foram sobre eles (Garotos perdidos e Blade), mas é claro que este aqui não podia ficar de fora. Entrevista com o vampiro é depois de Drácula de Bram Stocker (aquele com o Gary Oldman e o Antony Hopkins no papel principal) uma verdadeira referencia quando se fala de filmes de vampiros. Ele é um divisor de águas no assunto, além de ter sido inspirado por um dos livros da incrivel coleção “Crônicas Vampirescas” da escritora Anne Rice (da qual tenho orgulho de dizer que sou proprietária de alguns exemplares).

Este filme foi lançado em 1994, ou seja, há 21 anos, na época eu tinha 6 anos de idade e só fui assisti-lo pela primeira vez lá pelos 14. Mais ou menos na mesma época que comecei a me interessar por literatura de terror.
A história começa em um quarto de hotel, onde um jovem repórter seguiu um homem o qual ele achou que teria uma história de vida interessante para contar. Mas logo descobre que a criatura que divide o cômodo com ele não é um ser humano, mas sim um vampiro. Louis [000]. Passado o choque inicial, começa a entrevista propriamente dita.
Somos levados a Louisiana colonial, 1791, o jovem Louis é um senhor de terras que perdeu a esposa durante o parto, junto da criança. Ele está desolado e procurando a morte a todo custo, até que, como o próprio diz “Meu convite estava aberto a todos, a prostituta que me acompanhava, ao cafetão que a seguia, mas foi um vampiro que o aceitou”. E entra em cena Lestat, o bebedor de sangue amoral. Após um primeiro encontro no qual Lestat suga boa parte do sangue do outro, a transformação de Louis em um vampiro é completada. Mas Louis é um vampiro com escrúpulos e acredita não ser certo sobreviver se alimentando de vidas humanas. Essa é uma discussão que ele e Lestat terão durante todo o filme.
A história atravessa os séculos e logo estamos em Nova Orleans durante a peste e então Louis faz sua primeira vitima significativa, uma garotinha, que mais tarde Lestat transforma em bebedora de sangue, sob a afirmação de que o outro precisa de uma companhia que não seja a sua. O nome da garota é Claudia e ela passa a ser citada como a Vampira Criança.
Vale frisar que todo o filme tem essa carga homoafetiva entre os personagens Lestat e Louis, os quais no livro são explicitados terem um relacionamento amoroso. Uma das minhas passagens preferidas relacionadas a isso é logo que Lestat dá o dom negro a Claudia e ele diz: “Quer assustar nossa filhinha?” ao que a menina responde não ser filha dele e Lestat rebate “É sim, minha filha e de Louis”.
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Mas logo ficam claros os problemas de se transformar uma criança. Por ser fisicamente jovem, a fome por sangue é ainda mais urgente e desesperada, além do fato de que a mente envelhece, mas o corpo não, o que causa em Claudia um surto de raiva, após 30 anos de existência como vampira. Ela e Lestat começam a ter diferenças que acabam levando a uma tentativa de assassinato por parte de Claudia, a qual envenena o outro com sangue morto (uma das primeiras regras é jamais beber de cadáveres). Ela e Louis descartam o corpo no pântano, mas, Lestat retorna como um cadáver seco, quase uma múmia, para assombrá-los.
E eu preciso comentar, essa é uma cena e tanto, pois uma cortina de renda fica entre o corpo putrefato e a visão que temos dele, dando uma impressão de ilusão, como se ele estivesse e não estivesse ali ao mesmo tempo. E por fim a cortina sai e temos uma visão mais detalhada do rosto de quem um dia foi o Príncipe moleque. Lestat parece um zumbi esverdeado e relata como sobreviveu se alimentando do sangue de todos os animais do Mississipi.
Quando num rompante Lestat tenta atacar Claudia, Louis arremessa uma lamparina acesa, ateando fogo ao morto-vivo que começa a se debater em desespero enquanto os dois fogem.
Ao contrário do clássico conto de Drácula, que deu origem a tantas histórias, nas quais o vampiro pode ser eliminado com uma estaca no coração, correntes de alho, cruzes e água benta, Anne Rice deixou como única fraqueza de seus personagens a luz do sol. Eles são imunes a todo o resto, com exceção do sol.
E aqui será a ultima coisa sobre o filme em si que eu irei comentar, pois não pretendo dar muitos spoilers, mas esse trecho é bastante importante. Trata-se da sequência de cenas do Teatro dos Vampiros. Onde Louis e Claudia conhecem Armand. Neste teatro, que é aberto para apresentações a humanos, vampiros se alimentam de uma jovem no palco perante centenas de olhos mortais, que acreditam estarem vendo apenas uma peça teatral. Por que está cena é tão importante?
A parte de todo o simbolismo dos mortos fingindo serem vivos e se alimentando perante os mortais, (“Vampiros fingindo serem humanos fingindo serem vampiros”), essa cena foi cortada de algumas versões exibidas na televisão, incluindo a que veio para a tevê aberta, sob justificativa de ser chocante. Ao assistir mais uma vez para fazer esta review, comecei a compreender o motivo.
Porque entendam, os vampiros apresentados neste filme são sedutores e tomam suas vitimas se violência ou força, mas a presa do Teatro é acuada por uma horda de vampiros que não a deixam fugir, suas roupas são rasgadas a força enquanto ela grita por socorro, perante os olhos de todos os espectadores humanos e então surge Armand e tanto ele como todos os outros vampiros presentes mordem a moça, sugando-a até a ultima gota. Após ele se alimentar, entrega o corpo desacordado da jovem aos outros vampiros, que pulam sobre ela como um bando de animais e a devoram enquanto as cortinas se fecham.
Parando para analisar friamente, essa cena me fez pensar simbolicamente em um estupro, já que a moça tenta fugir dos bebedores de sangue.  Esta cena talvez seja uma das mais perturbadoras do filme. Na verdade todo o trecho do Armand é muito perturbador.
Enquanto que os outros filmes de vampiros desse desafio abordam o lado mais animalesco ou até mesmo rebelde de ser um vampiro, Entrevista pega o víeis emocional, todos os contras de se tornar uma criatura da noite, os dramas enfrentados por eles e o peso quase insuportável que é viver da morte dos que um dia foram seus semelhantes.  E eu gosto muito dessa pegada sentimental, contrastando as opiniões de Lestat e Louis.
Eu sei que os fãs puristas de Anne Rice vão dizer que os atores escolhidos para interpretarem Lestat e Armand não são condizentes com os personagens do livro, tenho de concordar, mas, levando em consideração a produção como um todo, eles fizeram um ótimo trabalho. Para quem não sabe ambos os vampiros foram transformados aos 15 anos, mas foram interpretados por atores bem mais velhos, respectivamente Tom Cruise e Antonio Banderas. Os atores podem não condizer com os personagens, mas os detalhes da narrativa, as cenas incrivelmente ricas compensam bastante.
O filme tem todos os elementos de um bom terror gótico, a atmosfera, o figurino, as personagens e claro o enredo, que evolui de forma fluída. Eu recomendo para os fãs de filmes clássicos de vampiros com um quê histórico no enredo, mas não para quem se incomoda com cenas perturbadoras com facilidade, porque apesar de toda a sutileza com que o filme é conduzido, ele é bastante incomodo.
E então para os créditos finais toca Simpathy for the devil, dos Rowling Stones e nunca uma música encaixou tão bem num filme.
“Não tenha medo. Vou lhe dar a escolha que nunca tive”

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