31 dias de Halloween – dia 16 – Carrie, a estranha [versão de 1976]

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Este é um filme com muito significado para mim e eu tenho certeza que mesmo que não tenha assistido, você conhece o enredo-base. Foi o primeiro livro de Stephen King que eu li e quando tive a chance de ver a primeira versão em filme, me identifiquei com a Carrie, talvez pelos bullyings constantes que sofri na época do colégio e não foram poucas às vezes em que ansiei ter os poderes de telecinésia dela.

O livro já teve três versões adaptadas para filme (1976, 2002 e 2013) e todos os fãs têm sua versão preferida e a minha é esta aqui. Eu sempre achei que Sissy Spacek fez uma interpretação incrível da pobre garota oprimida pela mãe fanática religiosa, que vê em seu poder despertado uma chance de fuga, mas que ao tê-lo amplificado em um momento de humilhação violenta, perde o controle sobre ele.
A primeira cena é de um grupo de garotas jogando vôlei. Carrie está mais afastada e demonstra ter medo de levar uma bola na cara. Sabendo disso, as demais garotas dizem para que jogue para ela, “Ela vai errar mesmo”. O time em que Carrie está perde a partida, e antes de irem para o chuveiro, Chris Hargenson passa por ela e diz “Você come merda”.
A cena seguinte que são os créditos iniciais apresenta o interior de um vestiário feminino. Garotas seminuas, enroladas em toalhas, secando os cabelos, conversando, além da clássica guerra de jogar peças de roupas umas nas outras. A câmera apresenta cada cena com sutileza e calma, como se quisesse nos dar tempo de apreciar os detalhes.
Todas as meninas já estão se trocando, mas Carrie continua no chuveiro. Segue-se uma sequência dela tomando banho, com closes em detalhes das coxas e outras áreas, até que um rastro de sangue aparece. É a primeira menstruação de Carrie, aos 16 anos. Desesperada, achando que está morrendo, (por não ter tido instrução prévia por parte da mãe) ela sai do chuveiro com as mãos cobertas de sangue menstrual, gritando por ajuda para as outras garotas, que ao invés de lhe darem suporte, riem e apontam para ela e em seguida, instigadas por Chris, atiram absorventes internos nela, gritando “enfia um tampão” diversas vezes.
É uma cena bastante perturbadora que mostra como adolescentes podem ser cruéis pelo simples prazer de causar incomodo e dor a outras pessoas e como o comportamento de rebanho ganha força quando mais de duas pessoas aderem a algum tipo de ataque direto. A sessão de bullying teria se prolongado ainda mais se a professora de Ed. Física, Srta. Collins, não entrasse e desse um basta. Ao tentar fazer Carrie se acalmar, ela acaba gritando com a garota. No mesmo instante a lampada sobre o Box do chuveiro explode.
A segunda manifestação do poder de Carrie acontece na sala do diretor, ele está falando com ela enquanto uma ficha de dispensa é digitada, mas erra o nome dela diversas vezes, chamando-a de Cassie, em dado momento ela o corrige gritando e no mesmo instante, o cinzeiro que estava sobre a mesa dele da um salto da mesa e espatifa no chão. Começamos a compreender que, de principio, os poderes dela afloram quando a garota está com raiva ou assustada e são involuntários.
Ocorrem mais algumas pequenas manifestações dos poderes, como derrubar um garoto que chama de esquisita, da bicicleta. E agora, sempre que ela faz algo acontecer, a câmera foca em seus olhos e um som estridente toca ao fundo. Carrie,sem perceber, está começando a dominar seus poderes mentais.
E então conhecemos a mulher que fez a pobre menina se tornar essa coisinha assustada que não sabe nada da vida, Margaret White aparece andando toda de preto e com os cabelos ruivos esvoaçantes e uma pasta preta na mão, em direção a uma casa. Ela bate de porta em porta “pregando a palavra de Deus” e vendendo livros também. E não teria problema se… Ela não fosse uma fanática obsessiva psicótica. E quando chega em casa recebe um telefonema da escola, informando que Carrie teve a primeira menstruação.
Em resposta a isso a mulher manda a filha descer e quando ela pergunta por que não falou com ela sobre o ciclo menstrual, a mãe a chama de pecadora, obriga que se ajoelhe no chão e por fim a prende em um quartinho de vassouras minúsculo. Pois é culpa da garota ter nascido mulher e segundo ela, as mulheres são impuras e pecadoras. É uma cena muito perturbadora.
Uma cena que vale a pena ser citada é quando a Srta. Collins diz que o castigo para o que elas fizeram com Carrie, será ficarem todas, uma hora após a aula todos os das em detenção, com ela. E caso faltem, serão proibidas de irem ao baile. Dá um gostinho de vingança sendo feita ver as meninas fazerem exercícios físicos até a exaustão e ficarem com os joelhos e cabelos imundos de barro e poeira. Até que Chris como a boa filhinha do papai que é, resolve discutir com a professora, que lhe dá um tapa em resposta a uma ofensa que ela diz. A garota sai batendo o pé e a Srta. Collins informa que ela está banida do baile.
Enquanto isso Carrie, após ter quebrado um espelho de casa em um acesso de choro desesperado, agora faz pesquisa na biblioteca da escola. Ela procura por livros relacionados a milagres, sem saber que seu dom é totalmente natural.  E finalmente ela descobre o nome do que faz, é telecinésia, o poder de mover ou explodir objetos com a mente.  
Então somos apresentados ao namorado de Chris, Billy Nollan (John Travolta), ele é um cara mau e não é só modo de falar. Ele é cruel e violento, sem escrúpulos e que faz qualquer coisa com tanto que seja divertido e nocivo ao mesmo tempo. e Chris que é tão cruel com Carrie, deixa que Billy a agrida e ofenda e ainda assim parece agradecida por isso.
Mas a cena que dá o tom para o resto do filme é quando Sue Snell, uma das meninas que foi cruel com Carrie, pede que o namorado, Tommy Ross, leve a outra garota como sua companhia no baile de outono. Segundo ela diz, é uma forma de minimizar o mal que causou. Observação, tudo isso que eu narrei acontece aos 30 primeiros minutos do filme. Tommy finalmente convida Carrie para o baile e no primeiro momento, ela acha que é outra brincadeira de mau gosto e não responde. Mas após uma conversa da Srta. Collins com Tommy e Sue e uma segunda tentativa do rapaz de convidar a garota, ela acaba aceitando.
Enquanto isso, Billy e Chris colocam em prática o plano nefasto que será aplicado no dia do baile de outono. Acho que mesmo quem não viu o filme conhece a cena clássica do balde de sangue de porco na cabeça que ela leva no baile do colégio. Isso não chega a ser um spoiler, levando em conta que é a cena mais reproduzida do filme até hoje.
Essa é uma das melhores adaptações do livro, não estou dizendo que é a única que vale a pena, mas é uma das mais fieis. Você pode ver a evolução de Carrie como pessoa a partir do momento em que ela aprende a dominar seus poderes. E é algo quase reconfortante, ver aquela menina que era oprimida todos os dias tanto pela mãe quanto pelas colegas de escola, tomando as rédeas da própria vida e decidindo o que fará ou não fará.
Eu acho a interpretação da Piper Laurie como Margaret White uma das melhores, ela tem o perfil de uma psicótica homicida perfeita. Ao mesmo tempo em que apresenta picos de carinho e atenção, logo tem ganas de matar e destruir a filha, a qual ela chama de maldição e pecado. Sem dar spoilers para quem não conhece a história, mas o fim dela foi merecido e sempre que eu revejo a cena sinto aquela sensação de vingança cumprida.
Carrie é uma fabula moderna sobre o que acontece caso você perturbe ou assedie uma pessoa que aparenta não ter forças para revidar os ataques. Cada uma das adaptações deu atenção para um trecho diferente do livro, nesse ponto acredito que a adaptação de 2002 é a mais completa. Mas a de 76 tem a Sissy e eu não troco ela por nada.
Existe uma campanha feita em um grupo americano sobre Stephen King que diz “Carrie White não é uma vilã”, já que ela é citada em muitos textos sobre os personagens sanguinários e psicóticos dele. Eu tenho de concordar, Carrie é uma vitima das circunstancias e da criação castrativa da mãe, o fato de ela ter poderes telecinéticos foi apenas um detalhe que no primeiro momento serviu para libertá-la de sua prisão sem muros.
Vale frisar que em nenhum momento no livro King diz que ela era feia para os padrões de beleza da sociedade. Ela era uma garota desajustada e que se vestia mal por culpa da mãe. Mas era linda.
“Carrie, a estranha” como ficou chamado aqui no Brasil é um filme até que razoavelmente tranquilo para aqueles que não lidam bem com sangue e cenas violentas. Com exceção dos últimos 20 minutos de filme, mas vale muito a pena assistir pelo simples fator de poder ver uma pessoa se vingar de seus opressores, até que as coisas saem do controle. Também sugiro a leitura do livro, a narrativa é meio maçante, pois é no estilo documentário/dossiê, mas apresenta detalhes que precisaram ser omitidos das adaptações em filme.
“Eles vão rir de você. Eles todos vão rir de você”

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